O galerista Carlos Cabral Nunes expressou a sua convicção de que a obra da talentosa pintora Teresa Roza d’Oliveira tem sido sistematicamente ignorada, uma situação que ele atribui à discriminação devido à sua dupla condição de mulher e lésbica.
Numa iniciativa ousada para reabilitar a artista, a Perve Galeria está a preparar a primeira exposição individual de Teresa Roza d’Oliveira no Reino Unido, quatro anos após o seu falecimento. A exposição, intitulada “Sem título”, irá decorrer em Londres, de 01 a 29 de Fevereiro, em colaboração com a galeria Ed Cross Fine Art.
Segundo o director artístico da Perve Galeria, a obra de Teresa Roza d’Oliveira foi alvo de menosprezo, sendo relegada a segundo plano e silenciada ao longo dos anos.
Nascida em 1945 na Ilha de Moçambique, a artista destacou-se como contemporânea de figuras proeminentes como Alberto Chissano, Malangatana Ngwenya, Roberto Chichorro e Ernesto Shikhani, tornando-se, ela própria, uma activista comprometida com os direitos das mulheres e a independência durante o período colonial.
Após a independência de Moçambique em 1975, Cabral Nunes argumenta que Teresa Roza d’Oliveira foi marginalizada devido à sua ascendência branca, o que a levou a tomar a decisão de se separar do marido e abraçar abertamente a sua identidade homossexual. Essa escolha, acredita-se, contribuiu para a sua decisão de deixar o país, estabelecendo-se em Portugal, onde viveu ao lado da sua companheira por quase três décadas.
A condição de mulher liberal e emancipada, num contexto de sociedade conservadora e profundamente católica, limitou significativamente as oportunidades e o reconhecimento artístico de Teresa Roza d’Oliveira. Apesar de algumas exposições ao longo dos anos, o seu trabalho não recebeu a devida atenção, resultando numa partida quase anónima.
Carlos Cabral Nunes, que adquiriu o espólio artístico da pintora em 2022, tem desde então empenhado esforços na promoção da obra da artista, através de diversas exposições e feiras de arte.
A exposição em Londres, intitulada “Sem título”, oferecerá aos visitantes uma viagem pelos trabalhos realizados entre as décadas de 1970 e 2019, “revelando um universo plástico e imagético inconfundível, habitado por figuras como animais antropomórficos, criaturas aladas, serpentes e cenários de ressonâncias bíblicas”.
O evento pretende ser mais do que uma mera retrospectiva, é uma tentativa de resgatar do esquecimento uma artista cujo contributo merece ser celebrado. Richard Gray, também galerista e autor de um texto que acompanha a exposição, discorda da visão de Teresa Roza d’Oliveira como uma “heroína marginalizada,” argumenta que ela era movida pela paixão e não por cruzadas ou compulsões para o pecado, conforme sugerem algumas das suas pinturas com serpentes.