Moçambique registou uma queda acentuada nas receitas provenientes das exportações de açúcar no primeiro trimestre de 2024, com um total de apenas três milhões de dólares. Este valor representa uma diminuição de 70,7% em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo dados divulgados pelo Banco de Moçambique.
O relatório do Banco de Moçambique sobre a balança de pagamentos indica que esta significativa queda nas receitas é atribuída a uma redução no volume de açúcar exportado, que, por sua vez, foi consequência de uma diminuição na disponibilidade de cana-de-açúcar. As cheias e inundações registadas no início do ano são apontadas como as principais causas desta escassez, afetando severamente a produção.
Em 2023, no mesmo período, as exportações de açúcar renderam a Moçambique 10,3 milhões de dólares, um valor substancialmente superior ao agora registado.
A situação na Açucareira de Mafambisse, localizada na província de Sofala, exemplifica bem as dificuldades enfrentadas pelo setor. De acordo com Pascoal Macule, diretor da Tongaat Hulett, grupo que detém a açucareira, a produção de açúcar tem estado em queda devido aos efeitos combinados das intempéries e das alterações climáticas. Nos últimos dois anos, a produção anual caiu de 75 mil para 40 mil toneladas, resultando em prejuízos significativos para a fábrica.
Outro factor que contribuiu para esta redução foi a perda de cerca de 8.000 hectares de cana sacarina, matéria-prima essencial para a produção de açúcar, afetados pela seca e pelo fenómeno El Niño, especialmente na região de Nhamatanda.
Apesar de ter uma capacidade instalada para produzir 92 mil toneladas de açúcar por ano, a Açucareira de Mafambisse tem estado longe de atingir este potencial. Em resposta a esta crise, a Tongaat Hulett anunciou recentemente um investimento de 500 milhões de rands nas açucareiras de Mafambisse e Xinavane, na esperança de revitalizar a produção.
De acordo com a Lusa, Moçambique é um dos países mais severamente afectados pelas alterações climáticas, enfrentando ciclicamente cheias e ciclones tropicais durante a época chuvosa, que decorre entre Outubro e Abril. Nos últimos anos, fenómenos climáticos extremos têm provocado destruição em larga escala, como foi o caso dos ciclones Idai e Kenneth em 2019 e do ciclone Freddy no ano passado, que juntos causaram milhares de mortes e afetaram milhões de pessoas.
A província de Sofala, onde se localiza a Açucareira de Mafambisse, tem sido uma das regiões mais atingidas, agravando ainda mais os desafios para a produção agrícola e industrial na área.