Qual a sua opinião sobre o acordo de cooperação militar assinado entre São Tomé e Príncipe e a Rússia?
Foi com surpresa que o MLSTP-PSD e a oposição em geral, e até diria que o país em geral, tomou conhecimento da assinatura deste acordo. É que nada transpirou em São Tomé e Príncipe até ao momento em que a imprensa estrangeira veiculou esta informação e admira-nos bastante todo este secretismo. A Defesa é uma área sensível, o contexto internacional é delicado e, naturalmente, ao nível de São Tomé e Príncipe precisamos de um alinhamento entre todos os órgãos de soberania, Governo, Presidência da República, até porque a Defesa é uma área partilhada e o Presidente da República é Comandante Supremo das Forças Armadas e a Assembleia Nacional aprova esses acordos e o Presidente ratifica.
Sendo oposição como vão reagir?
O que é verdade é que em São Tomé e Príncipe, volto a frisar, não houve nenhuma informação a este respeito. Por isso, no MLSTP orientámos a nossa bancada parlamentar, através do líder da bancada, de remeter ao Governo solicitando uma cópia do acordo, de forma a que possamos conhecer as suas cláusulas, os seus conteúdos, os benefícios. Porque, de facto, nós precisamos de acompanhar este dossier. O que é verdade, é que tomámos conhecimento de um acordo que foi assinado em finais de Abril e que já está a ser implementado desde o dia 5 de Maio. Tomámos conhecimento de algo já consumado. E isso é lamentável no quadro da governação.
Outra questão. Patrice Trovoada só informou os são-tomenses desses acordos agora. O que transparece esta atitude?
É um dossier bastante sensível e nós temos consciência disso. Nós estamos a aguardar o pronunciamento do Governo que até este momento – em que estou a falar – não existe. O Presidente da República tem de se pronunciar sobre esta área que é partilhada entre a presidência e o governo. Por isso é que nós solicitámos o acordo para estudarmos os seus meandros e também para nos podermos posicionar enquanto oposição. Porque neste tipo de matéria, todo o tipo de equilibrismo de São Tomé e Príncipe, o Governo tem de ter consciência de que haverá, certamente, consequências.
Relativamente aos acordos diplomáticos e à posição de São Tomé em relação ao conflito Rússia-Ucrânia. Que efeitos são expectáveis?
Não lhe posso dizer, mas o que é verdade é que tendo em conta os relacionamentos tanto a nível da União Europeia e conhecendo as posições dos dois lados, apesar de São Tomé e Príncipe ter adoptado – que eu saiba até este momento – uma posição de neutralidade, à semelhança de muitos outros países africanos, estou consciente de que esse tipo de acordo traz sempre consequências. Vamos esperar a evolução nos próximos dias para nos podermos pronunciar com maior propriedade.