O coordenador especial de Joe Biden para infra-estruturas globais e segurança energética, Amos Hochstein, defendeu que Angola deve escolher empresas que garantam comunicações seguras e estáveis, face à necessidade de protecção de dados e aos ciberataques, alertando também para aquilo que chamou de “armadilha da dívida”.
Amos Hochstein, efectuou uma curta visita de 48 horas a Angola durante a semana finda, que incluiu encontros com o Presidente angolano, João Lourenço, e a comunidade empresarial norte-americana, bem como os ministros da Energia e Águas, Telecomunicações, Tecnologia de Informação e Comunicação Social e dos Transportes.
A visita surge na sequência da cimeira realizada em Dezembro, que reuniu vários líderes africanos em Washington.
“Estamos num momento crítico de oportunidades para África e para Angola, em particular. Estamos numa transformação económica mundial como não se via desde a revolução industrial. Face as alterações climáticas, há a necessidade urgente de acelerar a transição energética”, lembrou Amos Hochstein.
O enviado especial do Presidente norte-americano acrescentou referiu que “a transição energética é uma oportunidade para a transição de África” e que Angola é um “player decisivo” no apoio a outros países para acederem a infra-estruturas críticas para os mercados globais.
Sobre o impacto das visitas de alto nível que Angola tem recebido desde o início deste ano, entre as quais a do chefe da diplomacia chinesa, Qi Gang, e naquilo que tem que ver com as relações entre o país lusófono africano e os EUA, Hochstein afirmou que Presidente Biden reconhece a necessidade de se empenharem mais em África, considerando, no entanto, não haver nenhuma competição entre países.
“Achamos que os países africanos devem fazer as suas escolhas, trabalhar com empresas e países que queriam investir na comunidade. Que contratem trabalhadores locais, lhes paguem bons salários e lhes ofereçam assistência medica. São estas as parcerias que fazem crescer a economia”, apontou, sublinhando que se deve trabalhar de forma transparente e aberta e não criar “armadilhas de dívida” que vão “asfixiar” a próxima geração.
Dívidas perigam futuras gerações
O enviado de Biden, alertou, por outro lado, que empréstimos ou financiamentos que subjuguem as futuras gerações “às armadilhas de dívida” são perigosos para qualquer país. “Não há necessidade de hipotecar o futuro e há muitos exemplos no mundo do que acontece quando essas dívidas se acumulam e entram em falência”, destacou.
Em Janeiro, Angola, que tem a China como principal credor, assumiu um novo crédito no valor de 231 milhões de euros para desenvolver a banda larga no país.
No ano passado, o Presidente João Lourenço inaugurou, em Luanda, um parque tecnológico da chinesa Huawei (o terceiro em África, depois do Egipto e da África do Sul), num investimento de 58 milhões de euros, que vai formar 10 mil angolanos e dispõe de centros de inovação e tecnologias avançadas.
Amos Hochstein afirmou que os EUA apresentam alternativas de financiamento através de instituições como o DfC (International Development Finance Corporation) e Eximbank, sendo a Africell – operadora de telecomunicações que entrou em Angola no ano passado – um exemplo destes apoios.
“Oferece [a Africell] um bom produto. Temos orgulho em financiar a sua entrada em África e é um bom exemplo porque usam tecnologia europeia, não apenas americana”, realçou.
Questionado sobre os riscos para a segurança nacional de desenvolver a banda larga em parceria com chineses, respondeu que “os países devem fazer as suas escolhas em termos de operadores de telecomunicações que ofereçam segurança”, sobretudo numa altura em que se avança para o 5G, sistema em que a proteção de dados e a segurança face a ciberataques é cada vez mais importante.
“Não vamos dizer a um país, não usem esta ou aquela tecnologia, achamos que devem usar empresas confiáveis, mas não queremos só focar-nos no que não se pode fazer”, frisou, citado pela Lusa.
*José Zangui