África deve investir mais no desenvolvimento das energias renováveis, com o apoio do sector privado e das instituições financeiras internacionais, devido às oportunidades oferecidas para alcançar os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), consideraram especialistas.
Durante um workshop sobre o tema “Modelação Financeira para o Sector Extrativo (FIMES)”, organizado, há dias, em Abidjan, pelo Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), os peritos de cerca de 10 países africanos apontaram que o continente deve também controlar, explorar e transformar localmente os seus recursos minerais, “a fim de gerar os recursos financeiros necessários ao seu desenvolvimento”.
O director de política e investigação do Ministério das Minas e Recursos Minerais da Serra Leoa, Jean-David Cooper, citado num documento enviado à FORBES ÁFRICA LUSÓFONA, considera que as energias renováveis oferecem oportunidades para alcançar os ODS.
“Cada dólar investido em energias renováveis renderá mais 0,93 dólares e a implantação de energias renováveis conduzirá progressivamente a custos mais baixos, ao contrário dos combustíveis fósseis”, disse Cooper.
Para além da energia solar, descreve o documento, os activos de África nesta área incluem a energia eólica, a biomassa, a hidroelectricidade e minerais como o lítio, a grafite e o cobalto, que podem ser utilizados em tecnologias de energias renováveis, como a produção de painéis solares e baterias para veículos eléctricos.
A necessidade de o continente utilizar melhor os seus recursos minerais para o desenvolvimento sustentável foi um dos temas fundamentais abordados. Os participantes observaram que África fez progressos consideráveis na transição energética, apesar dos desafios, apontando para a escala dos objectivos ainda por alcançar.
Silas Olang, conselheiro para a Transição Energética em África no Instituto de Governação dos Recursos Naturais em Acra, no Gana, lamentou o facto de nenhum país africano se encontrar entre os 30 primeiros do mundo em termos de transição energética. No entanto, países como a Nigéria, o Gana, a Etiópia, o Quénia e a África do Sul “estão a implementar políticas arrojadas” para desenvolver as energias renováveis.
“Os minerais não são transformados em África, mas sim em países europeus e na China. 80% do cobalto africano é refinado na China. Se pudéssemos refinar os minérios em África, poderíamos vendê-los a um preço mais elevado, porque as exportações em bruto limitam os nossos ganhos financeiros, ou seja, estamos a perder enormemente no sistema actual”, alegou Cooper.
Por sua vez, Yannick Bouterige, assistente de Investigação na Fundação para Estudos e Investigação sobre o Desenvolvimento (FERDI), explicou como o Banco Africano de Desenvolvimento, através do seu Projecto de Modelação Financeira para o Sector Extrativo, está a ajudar os países africanos a mobilizar mais receitas fiscais, a desenvolver a sua capacidade institucional e a reforçar a sua resiliência. A Guiné, o Mali, a Libéria, Madagáscar, o Níger, a Serra Leoa, o Sudão do Sul e o Zimbabué são os beneficiários deste programa de dois anos, lançado em 2020, por dois anos.
No que se refere ao financiamento das energias renováveis, o BAD diz dispor de vários instrumentos de financiamento, projectos de investimento e departamentos dedicados ao setor que beneficiam todos os países africanos.
“A nova Janela de Acção Climática do Banco, no valor de 429 milhões de dólares, poderá constituir uma excelente oportunidade para financiar projectos de baixo carbono baseados em recursos naturais renováveis em África”, destacou o director de Recursos Naturais do Centro Africano de Gestão e Investimento em Recursos Naturais (ECNR) do Banco Africano de Desenvolvimento, Innocent Onah.
Segundo o BAD, as energias renováveis têm o potencial de fornecer eletricidade aos 600 milhões de africanos actualmente privados dela, criar emprego e estimular a industrialização.