A busca do desenvolvimento económico e social de África está a ter um custo bastante elevado. Este sonho africano, que tarda a se concretizar, tem levado os países do continente a acumularem dívidas, recorrendo a financiamentos internos e externos, em instituições financeiras mundiais.
Organizações de Bretton Woods, o Clube de Paris, instituições financeiras de desenvolvimento do grupo de países que compõem o G7 e de várias outras nações excedentárias, têm se constituído nas ‘tábuas de salvação’ para evitar catástrofes humanitárias em África.
Um documento do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), consultado pela FORBES, dá conta que a estrutura da composição da dívida africana sofreu mudanças significativas ao longo do tempo. Além de fontes tradicionais, como credores multilaterais e o Clube de Paris, passaram a fazer parte do pacote outros credores privados.
No primeiro ano do século XXI, avança o BAD, os credores bilaterais, nomeadamente os membros do Clube de Paris, detinham 57% da dívida dos países africanos, tendo caído, até 2019, para 27%. Até Maio do ano em curso, acrescenta o documento da instituição, 17 dos 38 países africanos para os quais foi feita uma análise de sustentabilidade, estavam a se sobre-endividar, 12 em risco moderado para o mesmo estado e seis encontravam-se sobre-endividados.
“No ano passado, os pagamentos de juros da dívida do continente atingiram 20% das receitas fiscais nos países africanos e ultrapassaram um terço das receitas em alguns países. Da mesma forma, a dívida pública no Norte de África aumentou cerca de 12 pontos percentuais para uma média de 88% do PIB em 2020”, refere o BAD.
Segundo a instituição bancária que apoia o desenvolvimento de África, a parcela da dívida detida por credores privados passou de 17% para 40% em 2019, ou seja, mais do que duplicou.
Na sua mais recente reunião anual, que decorreu de 23 a 25 do mês em curso, o BAD estimou que África precisará de um financiamento adiccional de 485 mil milhões de dólares entre 2021 e 2023.
Durante três dias, o grupo Banco Africano de Desenvolvimento debateu, em formato digital, vários temas, com enfase para a situação da dívida do continente berço, com os participantes a insistirem na necessidade de se realizarem reformas internas, reestruturar-se a dívida e num apoio internacional eficiente para reaquecer as economias e evitar o sobre-endividamento de África.
“É evidente que sem a reestruturação da dívida muitos mais países africanos enfrentarão uma situação de sobre-endividamento”, afirmou na abertura do encontro, Akinwumi Adesina, presidente do BAD, acrescentando que o maior desafio dos governos africanos é encontrar os recursos e reduzir o nível de endividamento.