Os angolanos votaram nesta Quarta-feira, 24 de Agosto, para a eleição dos deputados à Assembleia Nacional e do candidato a liderança dos destinos do país nos próximos cinco anos, em acto que foi o quinto pleito eleitoral da história da Angola democrática.
Para o acto, que teve início às 7 horas da manhã e encerrou às 16 horas da tarde, estavam registados mais de 14,4 milhões de cidadãos e disponíveis 13.238 assembleias de voto espalhadas pelos 164 municípios do país.
Pela primeira vez, os angolanos residentes na diáspora tiveram também a oportunidade de exercer o seu direito de cidadania. Um total de 22.560 cidadãos eleitores angolanos residentes no exterior do país actualizou o registo eleitoral, em 12 países e 26 cidades, segundo dados do Ministério da Administração do Território.
Os dados apresentados revelam que o registo eleitoral foi realizado na África do Sul (Pretória, Capetown e Joanesburgo), Alemanha (Berlin), Bélgica (Bruxelas), Brasil (Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro), França (Paris), Grâ Bretanha (Londres), Namíbia (Windhoek), Oshakati e Rundu).
Constaram ainda do processo eleitoral os Países Baixos (Aia e Roterdão), Portugal (Lisboa e Porto), República Democrática do Congo (Lumbubashi, Matadi e Kinshasa), República do Congo (Brazzaville, Dolisie e Ponta Negra) e Zâmbia (Solwezy, Lusaka e Mongo).
Com o encerramento das urnas, crescem, entre os eleitores, as expectativas, não só sobre a quém será confiado os destinos do país no próximo quinquénio, como também à volta dos seus anseios, ou seja, daquilo que espera que o próximo governo venha a realizar em prol do desenvolvimento socio-económico do país, do bem-estar e da qualidade de vida dos angolanos.
Na corrida estão sete partidos políticos e uma coligação de partidos, nomeadamente o Partido Humanista de Angola (PHA) – liderado por Florbela Malaquias, Partido Nacionalista para a Justiça em Angola (P-NJANGO) – que tem à cabeça Eduardo Jonatão Chingunji, União Nacional para Independência Total de Angola (UNITA) – presidido por Adalberto Costa Júnior, Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) – que tem como líder Nimi Ya Simbi, Aliança Patriótica Nacional (APN) – cujo presidente é Quintino Moreira, Partido de Renovação Social (PRS) – encabeçado por Benedito Daniel, Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) – com João Manuel Gonçalves Lourenço na liderança, bem como a Convergência Ampla para a Salvação de Angola – Coligação Eleitoral (CASA-CE), liderado por Manuel Fernandes.
Ouvido pela FORBES ÁFRICA LUSÓFONA, o economista e jornalista Carlos Rosado de Carvalho, diz que os manifestos eleitorais dos partidos concorrentes não lhe alimentam grandes expectativas, na medida em que, refere, os mesmos não apresentam muitos detalhes.
“São programas genéricos e é o que acontece, sobretudo com os programas dos dois partidos que aspiram grandemente o poder, o MPLA e a UNITA. O que faltou aqui, e é isso que penso que constitui um problema, foram debates, foram entrevistas, porque em todo o mundo, os concorrentes apresentam programas genéricos e depois, normalmente há debates, onde os adversários se questionem uns aos outros e pedem esclarecimentos sobre propostas concretas, sobre as propostas que a concorrência faça, ou então há entrevistas onde os jornalistas questionam os candidatos sobre as estratégias para concretizarem as suas propostas eleitorais”, indicou.

Infelizmente, prossegue Rosado de Carvalho, para quem a inexistência de debates e entrevistas contribuiu ainda mais para reduzir as suas expectativas, o que houve durante o período de campanha eleitoral foram “monólogos dos candidatos”.
Entre os temas económicos e financeiros que gostava que fossem aflorados por cada um dos concorrentes, com ideias concretas, o economista aponta a questão dos subsídios, sobretudo aos combustíveis, à energia e à água. De acordo com Carlos Rosado de Carvalho, existe o compromisso do actual Governo [que agora sessa funções] com o Fundo Monetário Internacional e com o Banco Mundial, no sentido de se eliminar, de forma faseada, os subsídios aos combustíveis, à energia e à água.
“A questão dos combustíveis, no estrangeiro, está a ditar a popularidade dos governos, devido ao aumento da inflação provocado pela subida dos combustíveis. Aqui [em Angola] nós estamos blindados aos subsídios e é o Orçamento [Geral do Estado] que suporta a diferença entre o preço de custos e o preço que são vendidos. Esta é uma questão que tem muito impacto orçamental”, explica.
Conforme contas de um dos mais reputados economistas da praça nacional, no ano passado Angola teve gastos à volta de 1,2 biliões de kwanzas com subsídios aos combustíveis.
“Para termos uma ideia, o orçamento com a educação é a volta de 1 bilião de kwanzas e o orçamento da saúde é de 800 mil milhões de dólares. Portanto, nós gastamos muito mais em subsídios aos combustíveis do que gastamos com a saúde e com a educação”, clarificou. Esta é, portanto, para Carlos Rosado uma questão fundamental que devia ter sido tratada e que, “infelizmente não foi”.
Por estas e outras razões, o também professor universitário não está muito expectante numa provável mudança da política económica do futuro Governo que sairá das eleições realizadas nesta Quarta-feira, independentemente de qual seja o partido que as vá vencer, e justifica: “[…] com um país como Angola, dependente do petróleo, não restam muitas alternativas em termos de políticas, sobretudo do ponto de vista orçamental, em que, pelo menos os partidos do arco do poder dizem isso, no sentido de melhorar as contas públicas. Acho que os graus de liberdade da política económica em Angola não são muito grandes”.
Rosado de Carvalho admite, no entanto, que eventualmente poder-se-á verificar algumas diferenças na operacionalização das políticas económicas, porém, reafirma que “os constrangimentos que existem são os mesmos” e lhe parece que as políticas económicas para resolver estes constrangimentos também deverão ser mais ou menos as mesmas”.
Em jeito de sugestão ao futuro Governo, o especialista em economia aconselha uma “política orçamental conservadora e prudente”, por causa do endividamento. “Qualquer endividamento que haja, é necessário que estas dívidas vão produzir riqueza, de forma que as mesmas [dívidas] possam ser pagas”.
Rosado considerou ainda que no campo da política monetária, em princípio, não haverá também muitas alterações porque, como disse, aí, “por força da independência do banco central”, não são os candidatos eleitos que vão determinar.
“Falei da política orçamental, falei da monetária e, do ponto de vista da política fiscal, penso que vai continuar o esforço no sentido de reforçar e aumentar as receitas não-petrolíferas, que é isso que também é preciso. Mas, portanto, independentemente de quem ganhar as eleições, não espero grandes alterações na política económica, porque simplesmente não se pode”, afirmou o economista.

Já o analista político, Ismael Mateus, comentando o day after das eleições para um canal televisivo nacional, optou por se focar naquilo que para ele deve ser o “grande desafio” do futuro Governo. Segundo o também jornalista, que diz compreender a preocupação que se tem com o combate à corrupção, o desafio maior de qualquer que seja o Governo, deve ser o de atender as expectativas dos cidadãos, uma tarefa que, defende, deve passar pela mudança de mentalidade dos dirigentes.
“É preciso ouvir as pessoas e mudar o modo de fazer política. Deve-se primar por uma governação mais participativa, uma governação mais próxima do cidadão, uma governação virada para os problemas dos cidadãos”, sugere.
O antigo secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas Angolanos, nas vestes de comentador televisivo, lembra que a campanha foi rica no modo como as pessoas se exprimiram. “Tivemos todas as pessoas a falar e isso é um sinal de que qualquer político, qualquer partido, vença quem vencer, tem de parar e ouvir os cidadãos. Isso é fundamental”, enfatizou, acrescentando, “não podemos ter os governantes lá em cima a tomar decisões e os cidadãos cá em baixo a aceitarem tranquilamente”.
Por sua vez, Hélio Patrício, outro economista ouvido pela FORBES, espera que a questão do acesso e a concessão de crédito ao sector privado se faça sentir na totalidade, “deixando de beneficiar apenas um grupo concentrado”, pois considera este segmento “a alavanca principal de uma economia, da qual depende parte da riqueza de um país”.