A evolução da Inteligência Artificial foi a janela de oportunidade de Daniela Braga e da sua DefinedCrowd. A empreendedora teve a noção de que não existia nenhuma empresa que oferecesse dados com a qualidade necessária, em tempo útil, e à escala global. O ponto de partida seria o de replicar o cérebro humano numa máquina, mas sem as limitações de capacidade de memória e armazenamento.
Em 2015, Daniela saltou do penhasco sem pára-quedas. Estava divorciada, com uma filha para criar e despediu-se de um emprego bem pago. Também não tinha capitais próprios nem pediu dinheiro emprestado ao banco. Foram estes os improváveis ingredientes que deram origem ao sucesso de Daniela Braga que, em Seattle, nos EUA, fundou a DefinedCrowd, uma start-up especializada em dados para Inteligência Artificial (AI).
Em 2015, Daniela saltou do penhasco sem pára-quedas. Estava divorciada, com uma filha para criar e despediu-se de um emprego bem pago.
“Em Agosto de 2015 juntei uma equipa de quatro elementos – mas dois não sobreviveram à incorporação da empresa nos seis meses iniciais e o terceiro saiu mais tarde. Não executaram a parte deles e não estavam comprometidos com o projecto. Ou a pessoa se atira do penhasco abaixo ou não vale a pena porque os investidores percebem esse medo”, explica Daniela à FORBES.
Ainda em 2015 marcou um almoço com investidores num restaurante em Seattle, apresentou a empresa num powerpoint e conseguiu sair com o primeiro cheque: 200 mil dólares de financiamento para arrancar o negócio. “O investimento inicial durou um ano e, entretanto, montei uma subsidiária em Portugal. Mais tarde, consegui também os primeiros clientes e fomos aceites em dois aceleradores, o da Techstars e o da Microsoft, onde aprendi muito”, conta.
Negócio sem fronteiras
Desde 2011, com a introdução da Watson (plataforma de serviços cognitivos da IBM para negócios), da Siri (assistente inteligente) e da memória computacional distribuída, os computadores transformaram-se num combinado de 100 ou 200 mil cérebros humanos.
“Só que não tínhamos dados para inserir porque custam a criar e há toda uma ciência por trás”, sublinha Daniela. Uma parte do trabalho da DefinedCrowd implica analisar e catalogar dados para clientes.
Em alguns casos, estas tarefas são feitas por pessoas que se inscrevem numa plataforma online da empresa e que são pagas por cada tarefa desempenhada. Tem cerca de 45 mil pessoas inscritas e o conhecimento desta comunidade é transformado num conjunto de dados altamente estruturados e desenhados. Cada pedaço de informação é validado a pente fino por uma equipa especializada em detecção de fraude. “Em três ou quatro meses injectamos memória, dados e conhecimento num computador ao nível linguístico, do conhecimento e das relações entre conceitos”, diz a empreendedora.
Numa era em que a inteligência artificial se está a alastrar, este é um mercado com concorrência. A rival Figure Eight, por exemplo, também se dedica a melhorar os sistemas de aprendizagem usados em tecnologias de inteligência artificial. Foi fundada em 2007 em São Francisco, e conseguiu até agora cerca de 50 milhões de euros de investimento, segundo a base de dados Crunchbase.
A tecnológica fundada por Daniela Braga tem neste momento 15 colaboradores em Seattle, 30 entre Lisboa e Porto e um em Tóquio. O objectivo é multiplicar estes números em seis meses.
“Acredito que há sempre alguém mais inteligente, com mais dinheiro e influência do que eu. A minha vantagem é que sou mais rápida”, sublinha.
A tecnológica fundada por Daniela Braga tem neste momento 15 colaboradores em Seattle, 30 entre Lisboa e Porto e um em Tóquio. O objectivo é multiplicar estes números em seis meses. “É importante levantar capital se queremos ir rápido, sobretudo na área tecnológica”, diz a empreendedora, que até ao momento conseguiu financiar-se em mais de 11 milhões de euros.
Uma boa fatia da última ronda de financiamento (de cerca de 10,1 milhões de euros) será aplicado no reforço das equipas de marketing, ‘na contratação de programadores e de customer success – os responsáveis pela felicidade do cliente. “Queremos chegar às 100 pessoas em Janeiro do próximo ano. Faltam-nos 55”, aponta a empresária.
Daniela controla tudo o que passa na empresa, embora não tenha mais de 50% de acções próprias. Estabeleceu alianças com investidores poderosos e tornou-se imprescindível na tomada de decisões.
“Terei sempre o controlo da empresa se os números estiverem a correr bem”. Por isso, a empresária nunca delegou completamente as funções que a fizeram crescer. “Gosto de estar à frente dos clientes apesar de a equipa de vendas estar a aumentar. Se eu me virar apenas para as finanças ou outra coisa perco o foco do mercado e posso estar a preparar uma coisa que não seja absorvida”, confessa.
Com uma estrutura acionista bastante diversificada e negócios em todo o mundo, são muitas as solicitações e expectativas para gerir. A empresária tem membros da administração ou clientes a ligarem-lhe a qualquer momento.
Esteja nos Estados Unidos, Europa ou Austrália pedem-lhe reacções a notícias do mundo tecnológico, sugerem-lhe potenciais financiadores ou convidam-na para eventos. “Tenho sempre de responder, mesmo que isso não seja preciso naquele momento”.
A expansão da empresa traduz-se nas escassas horas de sono: Daniela nunca tem horas para dormir e as notificações do WhatsApp estão sempre a cair no telemóvel.