Quando a Microsoft foi para a Bolsa em 1986, os escritórios ainda eram habitados por máquinas de escrever, mas quem acreditou no potencial do software para revolucionar a forma de trabalhar e investiu na oferta pública inicial da companhia fundada por Bill Gates, é hoje um potencial milionário: em pouco mais de trinta anos, cada 1100 dólares investidos em títulos da empresa naquela altura transformaram-se em um milhão. Se não é um deles, não desanime. Indústrias e negócios como o da Microsoft na altura, capazes de revolucionar a economia e o mundo, estão sempre a surgir e actualmente há uns quantos em potência. “Internet das coisas”, metadados – big data, inteligência artificial, impressão 3D e robótica são algumas das indústrias emergentes protagonistas da chamada Indústria 4.0 que está a transformar as empresas e a economia.
De acordo com a empresa Juniper Research, em 2020 haverá um robô em cada dez lares norte-americanos. Não será necessariamente um humanóide, mas um gadget capaz de desempenhar tarefas domésticas de forma autónoma, como o Roomba, o aspirador da iRobot que promete manter a casa sempre limpa, ou o Moley, da Moley Robotics, que promete ter um bacalhau com natas no ponto quando o dono chegar a casa (adeus Bimby).
A robotização da indústria não é nova. Empresas como a japonesa Fanuc, fundada em 1958, já há muito que recorrem à engenharia mecânica para a construção de robôs usados pelas indústrias automóvel, metalomecânica, entre outras. Contudo, na conjuntura actual, há factores que deverão acelerar a robotização da produção. “O mundo está com um problema de produtividade e os robôs são parte da solução”, explica Karen Kharmandarian, gestor do fundo Pictet Robotics. Na Europa, onde a demografia exerce grande pressão, a Comissão Europeia criou em 2014 o programa SPARC que pretende incentivar o investimento em investigação de modo a aumentar a quota europeia no mercado mundial de robótica dos actuais 35% para 40% até 2020 e, assim, ganhar mercado aos líderes Japão e EUA. E, de acordo com o Boston Consulting Group, as receitas do sector a nível mundial irão aumentar a um ritmo anual de 10%. São números aos quais os investidores não podem ficar alheios.
O acesso generalizado à internet nas economias desenvolvidas e a nova geração de software inteligente e preditivo, aliado ao aumento da capacidade de processamento de dados, está a mudar a forma de interacção entre as empresas e os clientes. “Estão a nascer novas empresas e modelos de negócio, que põem em causa alguns dos existentes”, diz Karen. Nos serviços, as fintech estão a pôr em cheque os bancos tradicionais, a Uber e a Dropbox estão a mudar o paradigma da propriedade, e empresas como a Amazon.com estão a mudar a forma como fazemos compras.
Encontrar agulhas no palheiro
No próximo Verão, o Ehang 184, desenvolvido pela empresa chinesa Ehang, marcará um novo patamar de inovação na indústria do transporte aéreo. Com força para transportar até cem quilos de peso e uma autonomia até 50 km, o megadrone irá transportar pessoas nos céus da cidade do Dubai e mudar o paradigma do transporte aéreo. Porém, tal como a maioria das empresas que desenvolvem tecnologias emergentes, a Ehang é financiada por fundos de capital de risco e não está acessível aos investidores comuns.
No sector da robótica, companhias como a norte-americana iRobot, fabricante do aspirador Roomba, a Intuitive Surgical e a israelita Mazor Robotics, ambas produtoras de robôs para o sector da saúde, são algumas excepções de empresas de robótica cotadas em Bolsa, com tecnologias inovadoras, maduras e com históricos de vendas e lucros robustos para mostrar. Porém, nas áreas da impressão 3D, do software ligado à inteligência artificial e à “Internet das coisas”, é mais difícil encontrar players puros cotados, o que leva à estratégia em parte usada por Karen na gestão do Pictet Robotics. “Não procurar ouro, mas sim as pás que o irão fazer por mim”, explica o gestor à FORBES. Na prática trata-se de investir em companhias já com créditos no sector tecnológico e meios para massificar e monetizar a nova tecnologia. Alphabet, Intel, Microsoft, Facebook e Amazon.com, são alguns exemplos, e todas fazem parte do top 10 das carteiras do fundo Pictet Digital ou do Pictet Robotics.
A Alphabet, por exemplo, foi, de acordo com a CB Insights, a empresa que mais aquisições fez na área da inteligência artificial desde 2013, seguida pela Intel, Microsoft e pelo Facebook, mas também na área da robótica onde só no último semestre do ano passado adquiriu oito start-ups, entre elas uma parcela do capital da promissora Boston Dynamics, inventora do robô Cheetha. Já a Amazon.com, que usa a engenharia robótica para gerir o espaço dos seus armazéns e já recorre a drones para os distribuir, representa a tecnologia em prática. Todavia, construir um portefólio diversificado nestes sectores pode tornar-se caro, devido aos custos de transacção, e ser pouco prudente em termos da gestão e da diversificação do risco.
O futuro pela porta dos fundos
Para pequenos investidores, os fundos temáticos de investimento como o Pictet Robotics, o Pictet Digital ou os fundos cotados (conhecidos como exchange-traded funds – ETF) são a forma mais inteligente de ganhar exposição às novas tecnologias da Indústria 4.0. Ainda assim, devido à especificidade, ambos obedecem a alguma disciplina por parte dos investidores.
“Em regra, são fundos com volatilidade elevada, pelo que não devem pesar mais de 15% de uma carteira e o seu investimento deve ser encarado numa óptica de longo prazo, sempre superior a sete anos”, explica Carlos Almeida, director de investimentos do Banco Best.
Devido à novidade, são escassos os fundos com enfoque específico nas indústrias 4.0. A Axa Funds Management e a sociedade gestora do Credit Suisse lançaram recentemente fundos sobre o tema da robótica, mas o fundo gerido por Karen, lançado em Outubro de 2015, é o mais antigo. Perante os curtos históricos, não é possível fazer grandes análises. Porém, em relação ao Pictet Robotics, que começou a ser gerido há mais de um ano, a rendibilidade bruta de 38% obtida nos últimos 12 meses ficou 8% acima da conseguida pelo ETF mais antigo do tema, o ROBO Global Robotics and Automation, um bom sinal para a gestão de Karen. “Nestes sectores, as regras mudam rapidamente e uma gestão activa gera valor acrescentado”, afirma o gestor. Por exemplo, a carteira do fundo tem uma composição que mistura players puros do sector com empresas grandes e maduras que, segundo o gestor, “tem um efeito diluidor da volatilidade e potenciador na rendibilidade do fundo”. E esta poderá ser uma pista para os investidores. Perante a escassez de empresas puras cotadas, bem como de fundos ou ETF, o enfoque em empresas grandes que por via de aquisições ou por experiência estejam expostas a estes sectores, é uma alternativa. Afinal, apesar de estar na moda, a robótica não é nova e na categoria de fundos do sector tecnológico, oferta não falta.
Em 2020, haverá um robô em cada dez lares norte-americanos. Não será necessariamente um humanóide, mas um gadjet capaz de desempenhar tarefas domésticas de forma autónoma.
Fanuc
origem Japão | Fundação 1958 | Sector Indústria
É a maior e mais antiga fabricante de robôs para uso industrial que podem ser aplicados a mais de uma dezena de sectores gerando enormes ganhos de produtividade. A fábrica de ecrãs de LCD da Panasonic em Amagasaki, Japão, é um exemplo. Devido ao uso dos robôs da empresa, uma fábrica com apenas 25 trabalhadores consegue produzir dois milhões de equipamentos por mês.
iRobot
origem EUA | Fundação 1990 | Sector Consumo
Começou pelo fabrico de robôs para uso militar, como o Packbot usado pelo exército norte-americano nas missões mais arriscadas para a vida humana e na detecção de inimigos. Porém, em 2016 alienou a divisão militar para se dedicar aos robôs para uso doméstico. Actualmente tem no aspirador Roomba, na “esfregona” Braava e no limpador de piscinas Mirra os seus principais produtos.
Intuitive Surgical
origem EUA | Fundação 1995| Sector Saúde
Fabricante mundial líder no segmento de electrónica para o uso no sector da saúde. O seu principal produto é o ”da Vinci Surgical System”, um robô controlado por médicos usado em procedimentos cirúrgicos nas especialidades de cardiologia, urologia e ginecologia, por permitir a substituição de antigos e mais invasivos procedimentos cirúrgicos.
Em cima da tendência
Seguir as grandes empresas do sector tecnológico pode ser uma boa estratégia para encontrar as líderes da próxima revolução tecnológica.
Alphabet
origem EUA | Fundação 1998 | Sector Tecnologias de informação
É conhecida pelo motor de busca Google e gera a maioria das suas receitas através de publicidade, mas são conhecidos os seus projectos na área da robótica, nomeadamente nos automóveis autónomos, onde trabalha agora com a Fiat Chrysler depois de ter desenvolvido o “Waymo”. É a companhia que mais empresas de robótica e de inteligência artificial comprou no último ano.
Amazon.com
origem EUA | Fundação 1996 | Sector Consumo
Comércio e marketing on-line, armazenamento organizado e gerido por robôs e, em breve, distribuição de artigos de consumo através de drones, são tudo elementos que fazem da retalhista de Jeff Bezos uma das empresas que mais benefícios está a retirar das tecnologias emergentes, como a robótica, a big data e a inteligência artificial. Isto apesar de não ser uma produtora das mesmas.
Intel
origem EUA | Fundação 1968 | Sector Tecnologias de informação
É líder numa das peças mais importantes no desenvolvimento das novas tecnologias ligadas à Indústria 4.0, os microprocessadores, e também tem estado atenta às oportunidades. Entre outras aquisições, comprou este ano a Mobileye, uma empresa israelita detentora da tecnologia de sensores mais avançada e cobiçada pela indústria automóvel.
Stratasys
origem EUA | Fundação 1989 | Sector Tecnologias de informação
É uma das maiores produtoras de impressoras 3D e de software para o seu uso na produção dos mais variados equipamentos. Em parceria com a canadiana Kor Ecologic já construiu a maioria dos componentes de um automóvel, o Urbee. Tem mais de 600 patentes pendentes de aprovação e presença nos sectores automóvel, aeroespacial e medicina dentária, entre outros.