O Presidente da Republica de Cabo Verde, José Maria Neves, assume que o país “tem diante de si enormes oportunidades para se transformar num país moderno, competitivo, próspero, justo e inclusivo, e, sobretudo, com mais oportunidades para todos os seus filhos”. Em entrevista ao “Discurso Directo”, um programa do Novo Semanário e do Jornal Económico detidos pelo grupo Media N9ve e onde se inclui também a FORBES ÁFRICA LUSÓFONA, José Maria Neves fez a avaliação deste primeiro ano de mandato à frente dos destinos do arquipélago.
O governante admitiu que, neste regresso à vida política activa, encontrou “um país que cresceu, que continua a crescer, mais moderno em alguns domínios da vida económica, e um país que tem diante de si enormes oportunidades para se transformar num país moderno, competitivo, próspero, justo e inclusivo, e, sobretudo, com mais oportunidades para todos os seus filhos”.
Sobre os objectivos do mandato presidencial, que assumiu em 2021, José Maria Neves sublinha que, um dos pontos cruciais, é que o país consiga “mais consensos, mais entendimentos, mais confiança mútua entre os diferentes actores políticos, e, sobretudo, mais civilidade no exercício da política, mais elevação, mais elegância”.
O contributo da diáspora
Outro pilar que considera importante na sua Presidência “é uma maior participação da diáspora. Nós somos um Estado transnacional, temos de aproveitar a enorme riqueza, as enormes potencialidades que temos no mundo”. Lembrou que Cabo Verde é um Estado desterritorializado e de transmigrantes, sendo que “temos enormes capacidades académicas, empresariais, culturais, desportivas, espalhadas por todos os cantos do mundo, e é preciso pôr tudo toda esta riqueza ao serviço desta nação global cabo-verdiana”.
José Maria Neves elege como terceiro pilar a inserção activa de Cabo Verde no mundo. Para tal, “é importante considerarmos o papel que Cabo Verde pode desempenhar em África, enquanto país-ponte com a Europa e com as Américas”. Neste âmbito, o Chefe de Estado cabo-verdiano refere que “pretendo desempenhar um papel importante a nível do continente africano e a nível das relações de Cabo Verde com o mundo. E pretendo que Cabo Verde seja cada vez mais conhecido como um país útil na arena Internacional, e, para isso, um espaço de diálogo, de paz, de inovação”.
Sobre o primeiro ano de mandato, que completou no passado mês de Novembro, refere que tem sido de “aprendizagem” e realça que o facto de já ter sido primeiro-ministro durante três mandatos “permitiu-me conhecer por dentro o funcionamento do sistema de governo em Cabo Verde, que é um sistema semipresidencialista, muito complexo e em que é difícil gerir as diferentes sensibilidades, quando as fronteiras, muitas vezes, são muito ténues”.
Sã coexistência com o Governo
Questionado sobre como tem gerido o relacionamento com o Governo encabeçado pelo Movimento para a Democracia (MpD), o Chefe de estado cabo-verdiano começou por salientar que “costumo dizer que o Presidente não tem maioria política, o Presidente é de todos. Passado o momento eleitoral, o Presidente deve assumir-se como o Presidente de todos os partidos, de todas as sensibilidades políticas e sociais e deve, efectivamente, desempenhar o seu papel de árbitro e moderador do sistema político”. Perante esta tomada de posição, refere que tem tentado “ser um pouco o espírito e a alma da nação cabo-verdiana, tentar expressar os sentimentos e as aspirações dos cabo-verdianos, tentar unir, tentar cuidar, tentar proteger. E realçou que “não há espaço para desentendimentos entre o Governo e o Presidente da República”.
No entanto, reconhece que ainda “não há uma autoconsciência sobre os limites de cada um no exercício das funções políticas, ainda há conflitos, há áreas de confusão, há problemas”. Mas, “globalmente, está a funcionar bem, a coabitação vai bem e vamos procurando melhorar onde é necessário introduzir melhorias para o bem do país”, remata.
No palco externo defende que Cabo Verde seja um país útil na arena internacional e que contribua para que o Atlântico, Norte e Sul, seja um corredor de paz e de cooperação para o desenvolvimento.
Na lusofonia e sendo o arquipélago um dos membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) admite que esta organização “tem um grande potencial estratégico, precisamente porque integra países que estão em vários espaços geopolíticos. Temos o Brasil na América do Sul, temos Timor na ASEAN [Associação de Nações do Sudeste Asiático], temos Guiné-Bissau e Guiné Equatorial na África Central, temos Angola e Moçambique na África Austral, e temos Cabo Verde e Guiné-Bissau na África Ocidental. E depois, temos vários países do mundo que estão a querer integrar-se enquanto observadores no espaço da CPLP”.
Por isso, acredita que a CPLP “pode ter esse papel global, estrategicamente muito importante, então, temos que revalorizar a CPLP enquanto comunidade, temos que reforçar os laços através de mais mobilidade de pessoas e reforçar as relações económico-empresariais, as trocas, ter a possibilidade de criar um mercado comum que poderá evoluir, por diferentes fases, e podermos assumir ou um protagonismo político económico mais forte na arena Internacional”.
Questionado sobre o papel que o Brasil poderá ter, já que por vezes estará mais próximo das Américas, José Maria Neves realça que este país “precisa da CPLP muito mais do que nós imaginamos para o seu futuro, mesmo por razões políticas na arena Internacional”. E deixa um exemplo: “Uma eventual candidatura do Brasil a membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas deveria contar com um forte impulso da CPLP. Não só, portanto, por razões económicas, mas também por razões geopolíticas, o Brasil precisa desta comunidade e cada um dos nossos países precisa do outro como de “pão para boca”, para consolidarmos as nossas relações neste mundo que está cada vez mais caótico, mais indefinido e com muitas improbabilidades”.
O Presidente de Cabo Verde conclui dizendo que “o reforço das nossas relações poderá ajudar a criar condições para fazermos face às enormes ameaças que o mundo atravessa neste momento”.
*Com Ricardo Santos Ferreira