O sector petrolífero em Angola continua a ser a principal fonte de receitas do país. Jovens de nacionalidade angolana, com menos de 35 anos de idade e com mais de 10 de experiência em multinacionais da indústria, assumiram responsabilidades de chefia e actualmente contribuem com o seu saber naquele que continua a ser a principal alavanca do crescimento e desenvolvimento económico do país.
A FORBES foi ao encontro destes profissionais para entender qual o impacto da Covid-19 nas actividades das empresas onde operam, bem como a visão que têm para o sector.
O aproveitamento racionalizado dos benefícios do sector petrolífero, a aposta na inclusão de profissionais nacionais capacitados, a falta de uma refinaria de grande porte, o melhor aproveitamento da riqueza gerada pelo sector, estão entre as principais preocupações apresentadas pelos jovens profissionais que, por outro lado, defendem a necessidade urgente de o país, aproveitar os benefícios que advém do petróleo para investir na diversificação económica e na formação dos quadros nacionais inseridos naquela indústria.
Segundo contam à FORBES, a Covid-19 em 2020, abriu portas para que muitos deles passassem a assumir cargos de chefia nas organizações em que trabalham.
Helton Vinhas, engenheiro de produção e actualmente representante offshore da Agência Nacional de Petróleos, Gás e Biocombustíveis (ANPG) no Bloco 18, considera que particularmente para a indústria petrolífera, a pandemia provocou a saída de pessoal expatriado do país e isso, diz, estimulou a promoção de pessoal nacional com capacidade reconhecida para tomar a liderança em algumas empresas.
“Hoje conseguimos ver um leque de pessoal nacional em posição de liderança em empresas estrangeiras que, noutrora, teria sido menos provável”, afirma.
Para António Seque, técnico de perfuração em sondas de petróleo e gás natural, o sector petrolífero angolano carece de um sistema de ensino definido, direccionado e pautado pelos melhores critérios contratuais para os trabalhadores locais, relativamente aos expatriados.
“Em 60 anos de exploração de petróleo em Angola, apenas em 2021, anunciou-se o primeiro centro estatal de formação tecno-profissional para área petrolífera, localizado no Sumbe”, refere, questionando-se sobre o tipo de investimentos que estão a ser feitos para que os quadros nacionais sejam valorizados dentro das empresas em que trabalham.
Os interlocutores da FORBES defendem que, localmente, se deve também criar condições para que as formações petrolíferas não sejam na sua maioria feitas no exterior.
“É necessário traçar mecanismos para que este conhecimento seja transmitido em Angola e em português e para que este conhecimento fique cá. Angola deve desenvolver as indústrias de suporte ao sector a nível nacional, permitindo que investidores locais entrem no negócio dos petróleos e quiçá um dia a indústria de petróleo angolana seja dominada por empresas angolanas”, sugere o engenheiro de produção e chefe de fábrica, Idónio dos Santos.
As fontes garantem que, com a crise pandémica, a oportunidade que está a ser dada aos jovens angolanos tem permitido que as operações no país sejam mantidas com 90% do pessoal nacional.
Receitas do petróleo devem ser melhor aproveitadas
Os jovens profissionais angolanos deste sector consideram que o país não tem feito um aproveitamento racional das receitas do petróleo. “Angola deve usar de forma racionalizada os benefícios que advém deste recurso, investindo em agricultura, ciência e tecnologia, turismo, educação e saúde”, sugere António Seque, que se mostra, por outro lado, preocupado com o facto de não se ter uma refinaria de grande porte no país com capacidade para purificar o nosso próprio crude.
“O problema não é o petróleo como fonte de receita, mas sim a excessiva dependência deste recurso com fonte de receita. É mau para economia de qualquer país a excessiva dependência de um único produto como fonte de receitas”, defende Idónio dos Santos.
O chefe de fábrica afirma que para o bem e a estabilidade de qualquer economia é essencial que ela seja diversificada. “Não se trata de suprimir a indústria petrolífera como fonte de receita, trata-se de fazer crescer outros sectores da economia, por forma a reduzir a dependência do petróleo para geração de receitas”, esclarece.
“A nossa indústria ainda representa mais de 80% no panorama global de geração de energia. Aqui o caso não é diferente, o melhor caminho é que Angola explore o máximo o sector petrolífero e canalize os seus benefícios para potenciar os outros sectores de negócios do país”, aponta Miguel Dias, engenheiro de intervenção de poços submarinos.
Do Petróleo e Gás para Energias Renováveis
A transição do petróleo e gás para energias renováveis também tem sido abordada no seio destes profissionais, numa altura em que a indústria mundial de petróleo vai sofrendo pressões externas, com o surgimento de outras fontes energéticas e as mudanças climáticas. Entretanto, a transição energética parece não ser motivo de preocupação de boa parte dos entrevistados. “A transição energética é uma realidade para os anos vindouros, mas o petróleo e gás continuarão a ser as principais fontes de energia nas próximas décadas”, perspectivam.
Para Helton, estrategicamente Angola ainda dependerá do petróleo durante muitos anos, colocando-se a necessidade de aumentar a quota-parte das empresas nacionais na produção de crude, deixando de depender maioritariamente da produção das empresas estrangeiras.
Celso Monteiro, engenheiro de petróleo e gás, superintendente de produção da Pluspetrol, justifica não existirem preocupações, porque do petróleo derivam vários subprodutos “que nos podem colocar dependentes desta matéria-prima por muitos anos”.
O engenheiro reforça que as mudanças que possam vir a existir no sector não preocupam os quadros nacionais. “A indústria petrolífera vai-se transformar muito, mas não vai desaparecer tão cedo. As grandes companhias petrolíferas já começaram uma transformação subtil por forma a se adequarem à nova realidade do mercado energético, apesar de uma tendência global no abandono dos combustíveis fosseis”, garante.