O governador do Banco de Portugal (BdP), Mário Centeno, destacou a importância da cooperação entre os bancos centrais dos países de língua portuguesa, considerando-a essencial num contexto de crescentes geopolíticas. Centeno fez estas declarações durante a segunda Conferência dos Governadores dos Bancos Centrais e dos Quadros da Área Financeira entre a China e os Países Lusófonos, realizada em Macau.
“Podemos beneficiar ainda mais do trabalho em rede e do conhecimento diferenciado que reside em cada uma das nossas instituições”, afirmou Centeno, sublinhando a “fluidez institucional” existente entre os bancos centrais lusófonos e a relevância de partilhar uma língua comum. O governador enfatizou ainda a “multiplicidade de realidades” em que os diversos países se encontram, o que torna a cooperação ainda mais relevante.
Mario Centeno recordou que a relação histórica e profunda do BdP com os países de língua oficial portuguesa tem sido fundamental para o desenvolvimento da cooperação, que já incluiu mais de 3.400 iniciativas desde 1991. Destacou o Acordo de Cooperação Cambial entre Portugal e Cabo Verde, assinado em 1998, como um exemplo emblemático que contribuiu para a estabilidade macroeconómica e financeira.
De acordo com a Lusa, este acordo distribuiu uma taxa de câmbio fixa entre o escudo de Cabo Verde e o escudo de Portugal, uma ligação que se manteve mesmo após Portugal ter adotado o euro em 2002. Um estudo do BdP de 2020 concluiu que esta cooperação colaborou com Cabo Verde credibilizar a sua política monetária, alinhando a inflação a níveis próximos da zona Euro.
O governador do BdP frisou a importância da cooperação internacional para fortalecer a confiança entre os povos, especialmente num momento de crescente fragmentação geopolítica. “Sem cooperação, algumas respostas de políticas seriam impossíveis”, alertou, referindo que os desequilíbrios podem transformar-se rapidamente em tensões regionais com implicações geopolíticas.
Durante o evento, a Autoridade Monetária de Macau assinou o primeiro acordo de partilha de informação com o Banco Central do Brasil e formalizou novos acordos com o Banco de Moçambique e com o Banco de Cabo Verde. Além disso, a Associação de Bancos de Macau também celebrou acordos de cooperação com a Associação Moçambicana de Bancos e a Associação Santomense de Bancos, evidenciando o fortalecimento das relações financeiras entre os países lusófonos.