Às portas das quintas eleições gerais em Angola, sendo as quartas em clima de paz efectiva, a FORBES ÁFRICA LUSÓFONA resume a “ficha” dos oito cabeças de lista dos partidos políticos concorrentes ao pleito do dia 24 de Agosto que, por força da Constituição e caso a formação que encabeçam for a mais votada e declarada vencedora, um deles assumirá a liderança do país.
A ordem dos perfis obedece ao posicionamento de cada um no boletim de voto, conforme determinou o sorteio realizado pela Comissão Nacional Eleitoral (CNE), a 13 de Julho último.
Florbela Malaquias – PHA
Presidente do Partido Humanista de Angola (PHA), a aspirante ao cadeirão máximo do poder no país, Florbela Malaquias, nasceu na província do Moxico, no dia 26 de Janeiro de 1959.
Única mulher a concorrer nestas eleições, a antiga militante do partido União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), é jornalista e advogada.
Bela Malaquias, como também é conhecida, foi combatente das extintas Forças Armadas de Libertação de Angola (FALA), braço armado da UNITA durante a guerra civil angolana que durou cerca de 27 anos e que opôs os a União Nacional para a Independência Total de Angola e o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).
Durante a maior parte do conflito armado, a candidata a Presidente da República, desenvolveu a actividade jornalística na então Rádio “Voz da Resistência do Galo Negro”, afecta à UNITA, tendo também passagem, posteriormente, pela Rádio Nacional de Angola, órgão público do país, onde chegou a ser administradora.
No capítulo literário, Florbela lançou, em 2019, o livro “Heroínas da Dignidade”, em que relata as suas memórias e experiências vividas na Jamba, antigo quartel-general da UNITA, partido fundado por Jonas Malheiro Savimbi, já falecido, em que dá enfase aos “maus-tratos” em que eram submetidas as mulheres.
Eduardo Jonatão Chingunji – P-NJANGO
Eduardo Jonatão Chingunji, também conhecido como Dinho Chingunji, é outro dissidente do partido UNITA. Natural do Lubango, província da Huíla, é filho de um dos dezoitos fundadores da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Samuel Piedoso Chingunji (Kafundanga), que foi também o primeiro chefe do estado-maior das extintas FALA.
O político que completa 58 anos de idade no próximo dia 7 de Setembro, é formado em engenharia civil pela South Bank University de Londres e fundou o Partido Nacionalista para a Justiça em Angola (P-NJANGO), há onze anos, sendo estreante nas eleições gerais deste ano.
O homem que diz ter entrado na política “para contrair a tradição dos políticos de tirarem proveito próprio”, esteve envolvido directamente na luta pela independência de Angola do então regime colonialista português.
Dinho Chingunji já foi ministro da Hotelaria e Turismo de Angola, de 2004 a 2008, no antigo Governo de Unidade e Reconciliação Nacional (GURN). Seu nome está também associado ao Lobby angolano no Congresso do Governo dos EUA para o reforço da democracia em Angola.
Profissionalmente, o engenheiro participou em diversos projectos urbanísticos, sendo actualmente técnico superior da função pública angolana.
Adalberto Costa Júnior – UNITA
De 60 anos de idade, Adalberto Costa Júnior, que encabeça a lista do partido União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) às eleições gerais deste ano e que se apresenta como o principal adversário do actual Presidente da República, nasceu na localidade de Quinjenje, região que pertencia a Benguela, mas que, actualmente, passou para o Huambo.
Fez o ensino primário e secundário no Huambo e concluiu o Liceu em Benguela, tendo depois frequentado a Escola Comercial e Industrial daquela província, na opção de Electrotecnia, antes de rumar para Portugal, aonde frequentou o pré-universitário na Escola Comercial e de Industrial Fontes Pereira de Melo, no Porto, na especialidade de Electrónica.
Ainda em Portugal, Adalberto Costa Júnior ingressou no Instituto Superior de Engenharia do Porto, aonde concluiu o curso de Engenharia Electrotécnica. Além desta formação, Adalberto Costa Júnior, possui ainda o curso de Ética Pública, feito na Universidade Gregoriana de Roma, e ainda o de jornalismo, comunicação e Marketing Político.
O seu ingresso na UNITA acontece em 1975. Três anos depois juntou-se ao braço jovem do partido do Galo Negro, ocupando vários cargos, principalmente no exterior, onde se encontrava a estudar.
Foi responsável da Juventude Unida Revolucionária de Angola (JURA) em terras lusas, desde 1980, tendo exercido, igualmente, o cargo de responsável pelos comités da da UNITA no Norte de Portugal.
De 1991 a 1996 desempenhou a função de Representante daquele partido em Portugal e, de 1996 a 2002, ocupou a mesma posição, mas junto do Vaticano.
O regresso às funções no Galo Negro em Angola acontece em 2003, quando desempenhou a função de Secretário Provincial da UNITA em Luanda. Dai para frente, Adalberto Costa Júnior só foi ascendendo, ocupando nos anos seguintes cargos de destaque no seu partido, como o de secretário Nacional para a Comunicação e Marketing, até chegar a vice-Presidente do grupo parlamentar do seu partido.
Depois de algum tempo nesta função, em 2019, durante o XIIIº Congresso Ordinário da UNITA, Adalberto Costa Júnior foi eleito Presidente do partido, substituindo Isaías Samakuva.
Entretanto, em 2021 o Tribunal Constitucional de Angola declarou nulo o conclave, decisão que foi superada em Dezembro do mesmo ano, altura em que voltou a ser eleito presidente, na repetição do XIIIº congresso, com 96,43% da preferência dos delegados.
Nimi Ya Simbi – FNLA
Com mais de 40 anos de militância na Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), Nimi Ya Simbi nasceu a 9 de Agosto de 1951 no município de Bembe, província do Uíge e, em 1961, no início da luta de libertação nacional, refugiou-se com os pais no ex-Zaíre, actual República Democrática do Congo, instalando-se concretamente na região de Matadi.
Foi recrutado para a FNLA em 1974, quando tinha menos de 25 anos, por colegas da universidade de Kisangani, onde estudava. Depois de entrar para o partido, a sua veia política falou mais alto e foi ocupando vários cargos, com destaque para o de secretário-geral no tempo de Álvaro Holden Roberto, o falecido e primeiro líder da FNLA.
Chegou a ocupar o cargo de vice-presidente na altura em que Ngola Kabangu, outra figura histórica daquele partido, era o presidente da FNLA. Porém, um acórdão de 2009 do Tribunal Constitucional retirou Kabangu da presidência e designou Lucas Ngonda como legítimo sucessor de Holden Roberto.
Passaram-se mais de dez anos de turbulência na FNLA, sob a presidência de Lucas Ngonda, até que no dia 19 de Setembro do ano passado, os delegados ao Vº Congresso do partido elegeram Nimi Ya Simbi como presidente da Frente Nacional de Libertação de Angola.
Manuel Fernandes – CASA-CE
Manuel Fernandes nasceu a 8 de Fevereiro de 1972 em Quiluanda, na província do Zaíre, onde fez o ensino primário. Aos 14 anos de idade deixou a zona que o viu nascer e mudou-se para Luanda, mais concretamente para o município do Cazenga, aonde frequentou o ensino secundário.
É formado em economia pela Universidade Privada de Angola (UPRA) e pós-graduado em docência universitária.
A entrada na vida política aconteceu em 1993, quando a convite de um amigo, fundaram o Partido de Aliança Livre de Maioria Angolana (PALMA), legalizado em 7 de Dezembro de 1994, do qual assumiu à presidência em 2015 quando tinha apenas 23 anos, depois da morte do amigo com quem fundou a formação política e que era o líder.
Já em 2002, Manuel Fernandes queria chegar à Assembleia Nacional, e tentou concorrer às eleições legislativas de 2008, através da integração do seu partido em uma coligação, mas sem sucesso.
Com a nova Constituição, em 2010, o jovem político reconheceu que não chegaria à presidência sozinho e decidiu criar outras alianças políticas e preparar-se para as eleições de 2012. Foi assim que integrou a Convergência Ampla para a Salvação de Angola – Coligação Eleitoral (CASA-CE), liderada na altura por Abel Chivukuvuku, há pouco meses do pleito eleitoral.
A coligação sofre algumas “convulsões” internas que culminaram com a saída de Chivukuvuku do leme, tendo André Mendes de Carvalho assumido o comando, responsabilidade que também deixou tempos depois. Foi a partir daquele momento que Manuel Fernandes posicionou-se como a solução para resolver os problemas da CASA -CE, aparentemente desarrumada, daí ter sido indicado em 2021 como Presidente da coligação.
Quintino António Moreira – APN
Filho de um antigo combatente e veterano de guerra, Quintino António Moreira nasceu no interior do país na aldeia de Kinzala, município dos Dembos, província do Bengo. Concluiu o ensino primário na sua aldeia natal e o ensino secundário na Missão Católica dos Dembos.
É licenciado em Direito na opção Júridico-Político pela Universidade Jean Piajet e mestrando em Governação e Gestão Pública na Faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto.
Foi deputado à Assembleia Nacional e membro do Conselho da República na legislatura 2008-2012.
Fundou e dirigiu o Partido Movimento Para Democracia de Angola (MPDA), tendo fundado também e presidido, mais tarde, a coligação de partidos denominada Nova Democracia-União Eleitoral.
Do seu percurso político, até aqui, destaca-se também, entre vários, os cargos de porta-Voz dos POC – Partidos da Oposição Civil, coordenador dos Partidos Políticos na Campanha por uma Angola Democrática, promovida pela OPEN SOCIETY.
Nas eleições gerais de 2022, é o cabeça de lista e candidato a Presidência da República de Angola pela Aliança Patriótica Nacional (APN), sendo o mais jovem entre os concorrentes, ao participar com 48 anos de idade.
Benedito Daniel – PRS
Líder do Partido de Renovação Social (PRS), nasceu a 28 de Dezembro de 1961, em Saurimo, província da Lunda-Sul.
O político, que concorre pela segunda vez consecutiva a Presidência da República, tem duas licenciaturas: uma em Química e outra em Ciências da Educação.
Em 1990, ingressou no PRS, onde já exerceu vários cargos de direcção, entre os quais, os de secretário de Relações Internacionais, secretário para os Assuntos Políticos e secretário-geral.
João Manuel Gonçalves Lourenço – MPLA
João Manuel Gonçalves Lourenço, nasceu na cidade do Lobito, província de Benguela, no dia 05 de Março de 1954. É filho de um enfermeiro e de uma costureira.
Foi na província do Bié, local onde o seu pai vivia na situação de residência vigiada por dez anos, depois de ter estado preso na cadeia de São Paulo em Luanda, em que Lourenço fez os estudos primários. Deu continuidade aos estudos na Escola Industrial de Luanda, actual Instituto Médio Industrial de Luanda.
João Lourenço abraçou a luta de libertação nacional em Agosto de 1974, tendo feito a sua primeira instrução politico-militar no Centro de Instrução Revolucionários em Kalunga, no Congo Brazzaville. No mesmo ano, integrou o primeiro grupo de combatentes do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) que entrou em território nacional, via Miconge, em direccção à cidade de Cabinda, após a queda do Regime colonial português.
Lourenço participou nos combates na fronteira do NTó/Yema e em outras contra a coligação FNLA/Exército Zairense, culminando com a derrota dessas forças que queriam ocupar o território da província mais a Norte do país. Para que estivesse preparado para a melhor participação na luta de libertação nacional, o político fez formação em artilharia pesada, desempenhou funções de Comissário Político em diversos escalões, e de Comissário Político da 2ª Região Político-militar em Cabinda, entre 1977 e 1978.
Em 1978 partiu para a ex-União Soviética para dar continuidade a sua formação militar, tendo ainda conseguido fazer o mestrado em Ciências Históricas na Academia Político-militar V.I. Lenine.
Regressou ao país em 1982 e foi logo colocado em acção, participando em operações militares no Cuanza Sul, Huambo e Bié.
Com apenas 29 anos de idade, João Lourenço foi designado pelo então Presidente da República e Comandante em Chefe das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA), para desempenhar as funções de Comissário provincial do Moxico (função equivalente à de governador provincial) e presidente do Conselho Militar Regional da 3ª Região político-militar. Depois do Moxico, em 1986, João Lourenço rumou para Benguela, para, até 1989, exercer às funções de Comissário Provincial e 1º Secretário do partido MPLA naquela província.
A sua ascensão como General nas FAPLA aconteceu em 1989, altura em que foi nomeado para desempenhar as funções de Chefe da Direcção Política Nacional das FAPLA, cargo que exerceu até 1990, para no ano seguinte, em 1991, passar a exercer as funções de Secretário do Bureau Político para Informação e de Secretário do Bureau Político para a Esfera Económica e Social, chegando ainda a função de Presidente do Grupo Parlamentar do MPLA, cargos exercidos até 1998.
Dentro do MPLA, João Lourenço desempenhou também a função de Secretário-Geral, de 1998 e 2003, cargo para o qual foi eleito no IVº Congresso Ordinário daquele partido, tendo ainda, no mesmo período, assumido a função de Presidente da Comissão Constitucional da Assembleia Nacional, onde continuou até 2014, mas já no cargo de 1º vice-presidente.
Depois de ficar algum tempo fora da actividade militar, em Abril de 2014 foi designado por Decreto Presidencial, para Ministro da Defesa Nacional, função que desempenhou até alguns meses antes de ser eleito no VIIº Congresso Ordinário do MPLA, realizado em Agosto de 2016, para o cargo de vice-presidente.
Nas quartas eleições gerais, realizadas no dia 23 de Agosto de 2017, João Lourenço foi o cabeça de lista do MPLA, sucedendo o recém-falecido ex-Presidente do referido partido, José Eduardo dos Santos, e fruto da vitória no pleito, tomou posse como o terceiro Presidente da República de Angola, no dia 26 de Setembro de 2017, aos 63 anos.
Cerca de um ano depois de ser investido como Presidente da República, João Lourenço foi eleito Presidente do MPLA, durante o VIº Congresso extraordinário, com 98,58% dos votos.