Tem 76 anos, mas o brilho de uma criança de dez no olhar. Talvez por isso Eugenio Perazza considere a “Me Too”, a linha favorita de entre todas as que a Magis já criou ao longo de 40 anos de história.
Trata-se da linha infantil colorida e cheia de animais que continua a ser testada pelo seu neto, a terceira geração da família a ter uma palavra a dizer na empresa. “Eu não quero dar uma resposta ao mercado infantil, não quero dar uma pura resposta de marketing às crianças. Quero criar produtos que lhes ensinem algo, que lhes permitam ter uma mente aberta, que sejam didácticos.”
O fundador e presidente da empresa italiana falou com a FORBES na sede da Magis, a cerca de uma hora de Veneza, de óculos encavalitados no nariz e pose descontraída. Pediu-nos que a conversa não fosse demorada, mas não deixou de contar histórias e, sobretudo, não deixou de sorrir durante todo o tempo. Licenciado em Economia, Eugenio começou a trabalhar para uma empresa que fazia peças de mobiliário assim que terminou os estudos. Mas a cópia, a fabricação massificada, incomodava-o. Questionou o chefe: por que não desenhar peças originais e vendê-las com carácter exclusivo? Corria o início dos anos 1960 e aquilo que agora parece óbvio, “na altura soava muito estranho”, conta-nos. “Ele achou que eu era louco. Mas eu acreditava mesmo, como acredito, que o design importa”. Ainda repetiu o apelo mais algumas vezes, “sem qualquer resultado, até ao dia em que” decidiu criar a sua “própria empresa com capital muito limitado: qualquer coisa como 25 mil euros”, convertendo as liras ao actual câmbio. Portanto, para capital limitado, gastos limitados. “Criei uma empresa muito light em termos de investimento, em que o dediquei totalmente ao desenvolvimento do design e do projecto. A produção era feita em outsourcing”, precisamente para conseguir controlar os custos.
Não ao fast design
O que ainda hoje o move é poder rodear as pessoas de design, de produtos de qualidade. Para isso, defende, não é preciso inventar muito. Aliás, convém até que isso não aconteça. O que faz sentido para o Sr. Perazza, como todos o tratam, é que os objectos utilitários do quotidiano possam ser peças de design. Que é como quem diz, ter um escorredor da loiça assinado por Marc Newson ou uma vassoura desenhada por Stefano Giovannoni. “A Magis põe a ênfase em ser única e universal. É nisso que queremos ser diferente dos nossos concorrentes”, conta-nos num inglês entrecortado com italiano e o olhar sereno de quem acredita ter apostado no cavalo certo. “Hoje fala-se de logística”, de exportação, de criação própria “e é tudo muito estruturado, parece fácil de fazer. Naquela altura [há 40 anos] não era tão fácil pelo que no início, para a Magis, foi muito difícil conseguir começar”, diz.
Ao Sr. Perazza, que ainda acompanha todos os passos do processo criativo dos produtos desenvolvidos pela Magis, juntaram-se o filho, Alberto Perazza e a nora, Barbara Minetto. Ele como director-geral e ela como responsável de marketing e comunicação. Os três funcionam em sincronia perfeita e é fácil ouvi-los repetir as mesmas ideias como se de mantras da Magis se tratassem. Uma delas, talvez a que lhes é mais cara, dizem-na todos com a mesma veemência: “não gostamos de fast design.” A prova é que um projecto, na Magis, pode demorar entre dois a quatro anos a chegar ao mercado, explicam. Houve alguns que até já demoraram cinco. Para os responsáveis da empresa, cada produto leva o tempo que tiver que levar a ser desenvolvido.
“Da ideia inicial até ao protótipo final, portanto antes da produção, passam-se realmente anos”, diz-nos Alberto Perazza enquanto observamos um produto em desenvolvimento – e no segredo dos deuses. O pai não só concorda como incutiu este modo de trabalhar na empresa, quando a criou, faz este ano 40 anos. “Para mim, o design começa com uma ideia muito forte. Se começar de uma ideia muito boa, vai desenvolver um design magnífico. Se não, vai ser apenas um exercício de estilo”, justifica Alberto. Que é como quem diz: se tem um design magnífico é intemporal. É único. E universal, como a Magis pretende. “O que vejo hoje é que o design” está a transformar-se “puramente num exercício de estilo”, repete em tom de lamento.
Na Magis não há designers fixos. É a empresa quem escolhe aqueles a quem vai pedir produtos ou linhas concretas, podendo escolher nomes já badalados – como Philippe Stark, Zaha Hadid ou Konstantin Grcic – ou indo atrás daqueles que acredita precisarem de projecção. E tudo é um trabalho conjunto: a Magis explica o que pretende, o designer começa a trabalhar e depois tudo é acordado entre as partes. O desenvolvimento do produto e a produção são totalmente feitos em Itália, muitas vezes com recurso a artesãos locais que começaram a trabalhar com a empresa ainda nos idos anos de 1960.
“Os melhores designers do mundo estão connosco”, garante Eugenio. E recorda um dos seus favoritos: Richard Sapper, que também já assinou algumas peças. “Quando eu era novo, ele era mais que um designer. Ele era o design”, sorri.
Nas suas costas, o sol vai tocando as flores do jardim que funciona como centro da sede da Magis. Da sala onde estamos é possível vislumbrar-se parte do show room, na esquina oposta, e se nos aproximarmos da janela, conseguimos ver os gabinetes de trabalho, do outro lado. O minimalismo impera num mundo onde se quer muita luz e muita inspiração. É fácil encontrar peças em desenvolvimento espalhadas no chão e criativos a debater ideias no jardim ou dentro de portas. E é ainda mais fácil encontrar Eugenio a calcorrear todos aqueles corredores em passo apressado a querer inteirar-se de tudo.