Intitulado “O Preço do Perdão”, o livro conta a histórias de amor e perdão entre dois estudantes são-tomenses residentes em Portugal. O ex-governante de 46 anos, descreve, em entrevista exclusiva à FORBES ÁFRICA LUSÓFONA, as suas ambições, num mundo artístico que considera “difícil”, em que se estreia com o pseudomono Castro de Andrade.
O que retrata a obra?
O livro faz referência a um acontecimento verídico, que ocorreu em Portugal, na época de 2008-2010. Um casal de namorado teve desavindo, devido a um prémio de euro milhões. Tinham uma sociedade, mas a aposta era feita sempre na conta da namorada e depois de se separarem ela decidiu que o dinheiro deveria ficar só para ela. O caso foi à justiça e o Tribunal decidiu que eles tinham de dividir o dinheiro em duas partes iguais. E foi a partir daí que escrevi o enredo deste livro. Esta não é a minha primeira obra. Escrevi três, mas curiosamente a última por ser a mais pequena é a que foi editada primeiro.
Porquê “O Preço do Perdão”?
Porque o título tem muito a ver com a obra, com o desenrolar da história. Da importância de se saber e conseguir perdoar.
O que os leitores e amantes da literatura podem esperar e encontrar neste livro, que contém 20 capítulos e 188 páginas?
O casal passa por uma situação de traição e a concretização do sonho do euro milhões, faz um deles passar por cima de alguns valores, da tradição cultural e do orgulho, para tentar reconquistar o outro. O dinheiro que era a causa de tudo revela-se insuficiente face ao amor. Por isso é que é “O preço do perdão”. O dinheiro pode contribuir para reaproximar pessoas desavindas ou não. Mas o importante é que as pessoas comprem e consumam o livro para cada um tirar a sua ilação.
Mas que grande lição, enquanto autor, acha que esta sua obra nos pode ensinar?
A grande lição é sobre tudo para os casais. Devem saber que perdoar é uma virtude. E há situações que acontecem que não são propositadas. A sorte, o azar, o destino ou mesmo as circunstâncias da vida as vezes colocam-nos perante dilemas complicados e acabamos por ceder. Mas, a partir do momento em que se arrepende, o outro deve compreender e perdoar. Sabemos que para as mulheres é mais fácil perdoar do que para nós homens, mas o perdão é essencial as vezes.
Somos um país com muitas dificuldades e a cultura acaba por sofrer sempre. Não há nenhum tipo de estímulo aos artistas ou que façam as pessoas escreverem. São poucas as instituições que apoiam.
Quanto tempo levou para que a obra estivesse pronta?
Este livro demorou mais tempo a ser publicado porque é o terceiro. Não o considero livro, mas sim rabisco. O terceiro que fiz entre 2009 e 2011, foi o momento de alguma inspiração e tempo livre que tive.
Que outras obras tem em carteira?
O primeiro livro é uma espécie de auto-biografia de algum período da minha vida, aqui em São Tomé e Príncipe, com o interesse nas associações juvenis, os primeiros amores. Eu decidi que o primeiro deve ser o último a ser publicado. Depois de terminar as minhas funções governamentais, retomei a escrita, fiz uma última revisão e desde Janeiro que tenho trabalhado nesta obra e o resultado está aqui. Agora tenho o acordo com a editora “Primeiro Capítulo” e, com o lançamento desta obra, acredito que ainda este ano será possível lançarmos a segunda. Os dois próximos livros já têm títulos, mas na devida altura todos saberão.
Quando lhe surgiu o gosto pela escrita?
Surgiu desde os meus 11 anos. Sempre li muitas histórias de patinhas, de quadradinhos, turma da Mónica, etc. e o meu primeiro Romance que li foi “Terra Morta”, de Castro Soromeio. Daí decidi que se um dia concretizasse o sonho de ser escritor, meu nome artístico seria Castro de Andrade. Participei em vários concursos literários e escrevi também para revistas na minha juventude. O Doutor Filinto Costa Alegre foi uma pessoa que me influenciou muito e me encorajou a escrever. E acredito que nada acontece por acaso e nunca é tarde para abraçar um desafio.
O livro será lançado também em Portugal?
Consegui este contrato de três anos com a “Primeiro Capítulo” e tudo é feito por eles. A reedição vai depender da venda. Nos PALOP [Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa] sabemos que não há muito esse gosto pela leitura, mas o caminho faz-se caminhando. Não tenho ilusões. Mas tudo está a ser feito para que o livro seja lançado em Agosto em Portugal.
A cultura continua a ser parente pobre do Governo. Isso não o preocupa, nem o desencoraja?
Não. Sabemos como é a nossa realidade. Não se investe muito na cultura e não é só aqui. Em outros países também. Somos um país com muitas dificuldades e a cultura acaba por sofrer sempre. Não há nenhum tipo de estímulo aos artistas ou que façam as pessoas escreverem. São poucas as instituições que apoiam. Tudo pode mudar conforme conseguirmos mudar a nossa mentalidade, atitude perante o trabalho e valorização das nossas raízes. E se conseguirmos produzir mais São Lima, Olinda Beja, mais Calema, mais João Seria e também os novos talentos para levarem o nome de São Tomé e Príncipe a outros cantos, acredito que a coisa mudará. É preciso também estímulo para se publicar os trabalhos, não um prémio como tal. Tenho esperança. Por isso mesmo, enfrentarei os desafios todos e vamos ver .
Pensa continuar com este estilo literário, o romance?
No romance é onde me sinto mais confortável, mas, naturalmente, sendo eu um homem político, num futuro próximo penso escrever algumas coisas também sobre a nossa política. Alguns ensaios ou mesmo uma obra ficcionada mas relacionada com a política e as nossas politiquices.