Nasceu em Lisboa, mas cedo regressou para São Vicente, a terra dos pais, a sua terra. Formou-se em arquitectura no Brasil, ficar por lá estava fora de questão “o país precisa de técnicos. Quando vamos estudar para fora temos de ter um espírito de missão, de regresso, para ajudar os nossos”. E olha em redor. Cerca de 20 trabalhadores labutam sob o sol e a correr contra o tempo há um mês para que o Grupo Monte do Sossego, carinhosamente chamado de Monte do Su, brilhe mais do que os outros na terça-feira de carnaval.
Filho da artista plástica Bela Duarte, fundadora do Centro Nacional do Artesanato e da Cooperativa da Resistência em São Vicente, Patcha “cresceu no meio artístico, no meio dos festivais que por cá se fazem e também a ver nas Oficinas Navais de Cabo Verde, que o seu pai dirigia e que servia de suporte a grupos carnavalescos”. Um pouco como acontece agora com os estaleiros que albergam secretamente cada um dos grupos a concurso.” O fascínio vem daí, perceber como era a engenharia da coisa e, entretanto, catapultei para as artes. Mas não tem sido fácil”, confidencia. “São 11 500 contos que precisamos para pôr esta estrutura de pé e a derrapagem só não é maior porque os nossos fornecedores chineses não estão a conseguir dar vazão e a alternativa é reciclar. Algum chegou do Senegal e do Brasil, mas de resto é tudo reciclado”. Outra dificuldade que enumera é a falta de mão-de-obra especializada. “Já se conseguiu avançar um pouco com a formação de técnicos com o Brasil, principalmente a nível dos bateristas, mas é preciso apostar mais nesta indústria”. Para o arquitecto, e também docente do Instituto Jean Piaget, “o Brasil é a grande inspiração, temos de assumi-lo, não podemos ser hipócritas. A tradição está lá. Os ritmos, as vestes, a essência do Carnaval é brasileira”. E, para finalizar, Patcha lança um alerta: “é preciso mais investimento público. Trabalhamos sob condições primitivas e isto tem de mudar”. E deixamo-lo no meio do estaleiro, entre barulhos, pó e material entulhado, a resolver um, mais um, problema de última hora.