Chama-se Érico Fortes, é engenheiro e tem trabalhado na criação de drones com objectivo de usa-los para ajudar a resolver os problemas da agricultura e reflorestação em Cabo Verde.
O jovem de 32 anos é licenciado em Engenharia Informática, nasceu na cidade do Porto Novo, mas veio a mudar-se para São Vicente para tirar o curso superior na universidade pública cabo-verdiana, tendo participado, em 2014, num concurso de bolsas de mestrado em Ciências da Computação, nos Estados Unidos da América (EUA).
Érico contou à Lusa que teve a oportunidade de estudar robótica e no seu projecto de final de curso desenvolveu o plano de elaboração de drones para fins agrícolas e florestais. Em Julho de 2018 o jovem cabo-verdiano criou a empresa Primebotics – Soluções Robóticas, pensando especificamente na produção de drones para agricultura e reflorestação.
Segundo explicou, a paixão pelos drones começou cedo, antes mesmo de partir para os EUA. “Assistia a vídeos no Youtube e sempre tive vontade de ter um drone. E na altura, em termos financeiros, não conseguia, porque eram caros. Como iria para os EUA, pensei em comprar um por lá quando houvesse baixa de preços, porém um dos meus professores produzia drones e pedi-lhe que me ensinasse a fazer também e aceitou”, narrou.
O jovem cabo-verdiano explica o processo de criação e destaca as grandes dificuldades. “No drone temos a parte de software e hardware. Então, no software de controlo, consigo fazer a programação, e na parte hardware acabo por criar grande parte das peças, através da minha impressora 3D, o que muito me facilita. Há peças que por vezes projetamos, mas que não encontramos no mercado por não existirem e por isso recorremos à tecnologia 3D”, diz.
“Numa conversa com um dos meus tios, que trabalha na agricultura, percebemos que um drone o ajudaria muito no trabalho, porque conseguiria fazer a sementeira, monitorizar os seus terrenos de cultivos, porque ficavam numa área bem afastada da sua residência”, lembra.
Ao que se sabe, já há dois drones produzidos e em funcionamento, sendo que o criador pretende apostar, nomeadamente, no transporte de medicamentos e outros bens essenciais, cujo próximo passo é garantir entregas entre ilhas ou comunidades afastadas.
O engenheiro acrescenta que contou com o apoio do Programa da Nações Unidas para o Desenvolvimento [PNUD], mas que pelo facto de existir poucos recursos à disposição no mercado local, tem procurando outras soluções para fazer face aos desafios da produção dos drones.
Érico revela ainda que durante a sua formação no secundário, conseguiu ainda optimizar os seus recursos, quando estudou electricidade e electrónica na escola técnica do Mindelo, e foi investindo no seu projecto.
“Tenho adquirido algumas impressoras e com o passar do tempo tento comprar as mais avançadas para melhorar a qualidade de impressão, mas não contabilizei os gastos. O valor é considerável, visto que o projecto existe desde 2015, antes mesmo de participar do programa internacional de 2019, e sobreviveu desde aquele momento das minhas poupanças”, recorda.
Érico Fortes participou em 2019 no programa de empreendedorismo internacional, a nível de África, da Tony Elumelu Foundation, e conseguiu o financiamento e o capital que precisava para criar a empresa e investir na tecnologia.
“Já tive possibilidade de melhorar em termos de materiais, porque inicialmente usava plástico e agora uso outros tipos de componentes, incluindo fibra de carbono, que é um material muito mais resistente e leve, o que melhora no consumo de energia e ajuda na aerodinâmica do equipamento”, detalhou.
Com um quarto drone em fase de acabamento, que será direccionado para a ilha de Santo Antão, também para aplicar em entregas – Santo Antão e São Vicente são duas ilhas ligadas apenas por via marítima –, este empreendedor dá um passo no seu objectivo de colocar um equipamento em cada ilha, para dar apoio aos agricultores e ajudar na reflorestação, entre outras atividades.
Conhecida como a ‘ilha das montanhas’, a ilha de Santo Antão tem algumas comunidades afastadas, onde não se consegue chegar de carro, pelo que, quando chove, muitas delas ficam isoladas, realidade que levou Érico Fortes a querer dar outro objectivo ao projeto dos drones.