Bruno Penela tem 24 anos e descende de uma família que se tem dedicado ao fabrico de brinquedos desde a década de 1920. Há cinco anos decidiu retomar um negócio que, apesar de sazonal, pesa entre 15 a 20% nas vendas da Bruplast:
São brinquedos de plástico, dos anos 50, fabricados de acordo com o método desse tempo – os moldes ainda são os mesmos -, que fazem as delícias de gente grande. “Estes brinquedos não fizeram parte da minha infância. Contudo, senti que não podia deixar morrer este negócio, que é uma tradição familiar”, explica Bruno, que acrescenta: “Os nossos clientes não são as crianças, são as lojas vintage, ou retro, coleccionadores e adultos saudosos da sua meninice”.
O refundador e gerente da Bruplast, que representa a quarta geração da família, diz ainda que conseguiu pegar no negócio dos brinquedos tradicionais porque tem ao seu lado o pai, Júlio Penela, que “é quem sabe tudo sobre brinquedos, desde os moldes à montagem e acabamentos”. Mas para perceber por que falamos de refundação, e como Bruno chegou à liderança da empresa, é preciso recuar quase 100 anos: a história dos brinquedos da Bruplast começou nos anos 1920, atravessando uma grande guerra mundial e os promissores anos 1950, que deram alento à construção da maior fábrica portuguesa de brinquedos, com 90 trabalhadores.
O problema foi a evolução do tempo que trouxe brinquedos modernos, a concorrência da Ásia, as normas de segurança da Comunidade Económica Europeia e a era do digital. O negócio foi arrefecendo até gelar.
Em 2011 os Penela tiveram mesmo que fechar as portas da fábrica de brinquedos tradicionais. Bruno andava na escola, quase a terminar o ensino secundário, mas já com a cabeça no mundo dos negócios. Inicialmente, confessa, não pensou nos brinquedos, apenas nas embalagens de plástico e nos clientes industriais. Só que estavam lá, no pequeno armazém de Alfena, entre as máquinas de injecção de plástico, os brinquedos da família Penela. “É verdade que não podemos viver só de brinquedos antigos. Mas são uma parte importante da Bruplast. A Internet veio ajudar o negócio, que vive de lojas vintage, e são muitas de Norte a Sul do país, com muitos clientes estrangeiros nas cidades de Lisboa e do Porto, bem como na região do Algarve”, acrescenta.
Importante é também a rede de lojas A Vida Portuguesa, de Catarina Portas, que “compra muitos brinquedos” da Bruplast. A empresa de Alfena fabrica e comercializa dezenas de brinquedos com as marcas JATO e PE-PE (Penela e Penela). Só best-sellers “são mais de 20”, como é o caso do táxi, da máquina de costura, da carrinha pão de forma e da tábua de passar a ferro, entre outros. “Criei a empresa há cinco anos com o know-how do meu pai, Júlio, recuperando uma carteira de clientes fiéis e comprando o equipamento e as marcas PE-PE e JATO à antiga empresa, que fechou em 2011.
O mais difícil foi voltar a introduzir no mercado este tipo de brinquedos de uma forma corrente”, explica o responsável pela marca.
Aqui, todos os brinquedos são feitos sob encomenda, o que anula a necessidade de haver inventário. Nem mesmo de martelos de São João, que animam o negócio durante três a quatro meses e obrigam a empregar pessoal em part-time. Este ano, para esta festa popular de dia 24 de Junho, a Bruplast fabricou 70 mil martelos, tendo como destino não só o Porto, mas também Braga e Vila do Conde.
Herança familiar
Em Alfena, no berço português do brinquedo artesanal, a Bruplast destaca-se porque é o único fabricante de cariz industrial.
Os táxis, os aviões, os fogões e as máquinas de costura de brincar, entre muitos outros brinquedos coloridos de plástico, vendem-se mais nas épocas festivas (no Natal e de Maio a Setembro) e os clientes não são só nacionais. Aliás, tentaram “levar os brinquedos lá para fora, Espanha, França, Inglaterra e Alemanha, mas é muito difícil”, adianta o jovem empresário.
Além das lojas vintage, das feiras, dos mercados e das festas populares, os brinquedos da Bruplast também se vendem pela “rede”. Aproveitando as formas de consumo dos tempos modernos, Bruno considera fundamental a empresa ter uma página na Internet, que está em construção e deverá estar operacional dentro de um mês. A partir daqui adivinha um incremento das vendas, que este ano deverão ultrapassar os 120 mil euros registados em 2016.
“É certo que hoje em dia a procura se faz sobretudo pela Internet, é por aqui que nos chega a maioria dos clientes. Mas temos muitos outros que nos ficaram a conhecer pelo passa a palavra”, continua. “Ganhamos dinheiro com os brinquedos, mas não podemos viver só disto”, sublinha. Ou seja, apesar de a herança familiar ser importante, o foco está no fabrico de peças e embalagens de plástico para os sectores do vinho, automóvel, eléctrico, papelaria e escritório. E conta crescer em breve com o fabrico de peças em plástico maiores, como cadeiras, por exemplo.Além de se expandir, também quer continuar a diversificar. Há dois anos comprou o negócio de artigos de papelaria a uma empresa que fechou e incorporou-o na Bruplast. Representa actualmente entre 20 a 30% das vendas.