O Boening-757 D4-CCG ‘Baia de Tarrafal’, propriedade da Icelandair, arrestado pelo Governo cabo-verdiano e que há vários meses está imobilizado no aeroporto internacional Amílcar Cabral, deve voltar às operações nos próximos meses, através de um processo de realocação, de acordo com uma previsão do grupo Icelandair, que até Junho liderou a companhia Transportes Aéreos de Cabo Verde (TACV).
O avião, fornecido à TACV em regime de leasing, está parado na Ilha de Sal desde Junho, por conta de alegadas dívidas que os gestores da Icelandair contraíram junto da empresa estatal ASA, organismo que gere os aeroportos do arquipélago.
Por conta disto, o Governo assumiu as participações daquela empresa islandesa, tendo agora previsto um plano de retoma dos serviços que, para o ministro do Turismo e dos Transportes de Cabo Verde, Carlos Santos, deve precisar de investimentos por parte do Estado.
“Obviamente [que o plano necessita de investimento], porque estamos numa fase de reiniciar e reiniciar significa investir. E essa é a perspectiva de investimento. Agora, tudo o que está a ser feito, está a ser feito com cabeça, tronco e membros, para podermos ter aqui uma equação que tenha alguma viabilidade”, afirmou o governante, citado pela Lusa.
Segundo Carlos Santos, o Governo está a trabalhar com especialistas para que a companhia, que não realiza voos comerciais desde Março de 2020, devido à pandemia da Covid-19, possa retomar a actividade, mas com um “efeito naquilo que são os bolsos dos contribuintes”, que seja “o menor possível”.
Num recente relatório financeiro consolidado do grupo islandês, também citado pela Lusa, do período de Janeiro a Setembro, a companhia assegura que o valor da sua participação na TACV foi totalmente contabilizada e que não registou nenhuma perda, em relação às acções do Governo, como a renacionalização.
Na mesma informação, a administração da Icelandair assegura que já tinha feito reservas para os valores que reclama à TACV, embora sem os quantificar. “A subsidiária da companhia, Loftleidir islandesa, é proprietária de uma aeronave que está actualmente em Cabo Verde e espera-se que seja realocada nos próximos meses”, lê-se ainda no documento.
O mesmo avião tinha chegado em Abril a Cabo Verde, mais de um ano depois de ter sido colocado em situação de armazenamento no exterior do país, com a suspensão dos voos da companhia (em Março de 2020) devido à pandemia da Covid-19.
Em Março de 2019, o Estado cabo-verdiano vendeu 51% da então empresa pública TACV por 1,5 milhões de dólares à Lofleidir Cabo Verde, detida em 70% pela Loftleidir Icelandic EHF (grupo Icelandair, que ficou com 36% da Cabo Verde Airlines – nome comercial da companhia) e em 30% por empresários islandeses com experiência no sector da aviação (que assumiram os restantes 15% da quota de 51% privatizada).
A companhia, em que o Estado mantinha uma posição de 39%, concentrou então a actividade nos voos internacionais a partir do hub do Sal, deixando os voos domésticos. Entretanto, o Estado assumiu em 06 de Julho último a posição de 51% na TACV, detida desde 2019 por investidores islandeses, alegando vários incumprimentos na gestão e dissolvendo de imediato os corpos sociais.
A reversão de privatização da companhia teve efeitos a partir daquele dia, com a publicação do decreto-lei que a autoriza, aprovada pelo Conselho de Ministros, face às “sérias preocupações” com o “cumprimento dos princípios, termos, pressupostos e fins” definidos no processo de privatização.
A administração islandesa da CVA anunciou ainda em Junho a suspensão de vendas e do plano de retoma de voos, face à então intenção renacionalização da companhia avançada pelo Governo e o arresto da única aeronave reativada, das três em serviço antes da pandemia.