O Banco Nacional de Angola (BNA) completou em Julho três meses consecutivos sem realizar uma única sessão de leilões de divisas para o mercado bancário nacional, reflectindo assim a consolidação da sua retirada das operações e maior autonomia ao mercado de câmbio oficial, de acordo com constatação feita pela FORBES, com base nos relátórios sobre o tema disponibilizados pelo órgão regulador.
O mapa e calendário dos resultados dos leilões mostram que Abril deste ano foi a última vez que o banco central angolano realizou uma sessão de venda de moeda estrangeira ao mercado, com uma colocação de 50 milhões de dólares, dos quais só pouco mais da metade, precisamente 26,6 milhões é que foram despachados e absorvidos por cinco dos 25 bancos comerciais da praça.
O mais recente Research Atlantico – estudo mensal do Banco Millennium Atlântico (BMA) sobre a conjuntura económica – vem dar força ao facto, ao indicar que no mês de Julho último o BNA não realizou qualquer sessão de venda de divisas em leilão. O estudo justifica a saída do regulador do sistema bancário das operações do mercado, entre outros, com o incremento de participantes dos leilões, nomeadamente as companhias petrolíferas, empresas do sector diamantífero e o Tesouro Nacional.
“O mercado cambial continua dinâmico e se tem aprofundado, à medida que são definidas novas regras de funcionamento, desconcentração na oferta, retirada gradual do regulador enquanto principal ofertante e a manutenção da regularidade na realização dos leilões de divisas”, escrevem os analistas do BMA, no capítulo ‘mercado cambial’ do relatório.
Ouvidos pela FORBES, vários analistas consideram que a retirada do BNA neste tipo de operações é mais um sinal de que “o mercado de câmbio caminha para estabilidade”. Aliás, exemplificam, até há poucos menos de um ano não era visível uma ida aos leilões tão baixa quanto esta última, realizada em Abril, com apenas cinco bancos.
Com entrada de novos participantes e aumento de oferta de divisas no mercado, têm-se assistido, também, a uma queda no preço das principais moedas estrangeiras, nomeadamente o dólar dos Estados Unidos da América (USD) e o euro, a moeda da União Europeia.
Só em Julho, a taxa de câmbio do kwanza face ao dólar norte-americano apreciou 1,16%, ao se fixar em 638,622 Kwanzas, o que inverte a depreciação de 0,62% de Junho, de acordo com cálculos dos peritos do Banco Millennium Atlântico.
Em termos acumulados, acresce o estudo do BMA, a apreciação do kwanza ascendeu os 2,76% e continua a reflectir a redução da procura no mercado. Face ao euro, a apreciação mensal foi mais moderada, ao fixar-se em 1,06%, para 759,865 kwanzas e mais expressiva em termos acumulados, 5,96%.
Iniciado em Janeiro de 2018, analistas e empresários do sector das importações defendem que, com a entrada do novo regime cambial, foi reposta a confiança na economia, resultado da normalização do funcionamento do mercado, que, na visão destes, permitiu ainda regularizar as relações de comércio e de investimento externo que se vinham degradando, por força das restrições cambiais e da situação de incerteza que se vivia.
Fonte do banco central atestou ainda a FORBES que a nova regra das operações do mercado de divisas ‘deixou cair’ a lista de importadores prioritários e as vendas directas de moeda estrangeira, mecanismo usado antes de 2018 como forma de fazer chegar os parcos recursos em moeda estrangeira de que o país dispunha.
“Foram regularizadas as responsabilidades perante entidades não residentes cambiais com actividade no mercado nacional, como por exemplo as linhas aéreas estrangeiras, que permitiu a normalização da prestação deste serviço aos cidadãos nacionais”, precisa.