Entre 2017 e 2022, a sector bancário angolano terá perdido 17% da sua força de trabalho, segundo avançou o presidente da Deloitte no país, José Barata, quando apresentava nesta Quarta-feira, 19, em Luanda, as principais conclusões do estudo Banca e Análise.
Só no ano passado, indica José Barata, assistiu-se a uma “diminuição acentuada” de cerca de 1.223 colaboradores, mais 6,2% que em 2021, em grande medida justificada pelo processo de optmização da rede comercial levada acabo por alguns bancos, “e que ainda está em curso”, com destaque para o Banco de Poupança e Crédito (BPC), Banco de Comércio e Indústria (BCI), Banco Keve e também para o encerramento do BAI Microfinanças e do Banco Prestígio.
O despedimento de um elevado número de colaboradores em 2022 acompanhou, diz a Deloitte no seu 17º relatório que analisa o comportamento da banca, ao encerramento de 269 balcões de distintas instituições, que quando comparado com o ano anterior [2021] representa um crescimento de 16,5%.
Olhando para o desempenho agregado dos 23 bancos em actividade no ano passado e autorizados pelo Banco Nacional de Angola a operar no país, o documento aponta para uma queda do resultado líquido da banca na ordem dos 13,6% face a 2021 para cerca de 367 mil milhões de kwanzas, aproximadamente 728,6 milhões de dólares, não considerando para efeitos comparativos a informação financeira de 2021 do Banco económico.
A Deloitte explica a queda verificada nos lucros da banca com o agravamento dos prejuízos do BPC e pelo aumento nas imparidades em 2022, que cresceram 306 mil milhões de kwanzas (607,5 milhões de dólares) face a 2021. Entretanto, diz a consultora, a queda do resultado líquido do sector é atenuada pelo “aumento significativo” dos resultados cambiais que aumentaram, em 2022, cerca de 421%, bem como pela melhoria na margem financeira que cresceu 6,3%
“Na comparação, 2021 foi um ano que foi impactado pela reversão de imparidades associadas à dívida pública, um facto que não aconteceu em 2022, motivo pelo qual os resultados no ano passado diminuíram face a 2021”, argumentou o presidente da consultora responsável pela elaboração do estudo.
Em termos de ranking, o banco de Fomento Angola (BFA), com um resultado líquido de 140,4 mil milhões kz; Banco Angolano de Investimento (BAI), com 100,2 mil milhões kz, Standard Bank Angola (SBA), com 65,6 mil milhões kz; Banco Internacional de Crédito (BIC), com 41,6 mil milhões kz; e Banco Caixa Geral Angola (BCGA), com 34,4 mil milhões de kz.
Neste capítulo a Deloitte destaca o Banco Keve, que afirma ter registado uma subida “significativa” dos lucros para 26,5 mil milhões de kwanzas – que superam os 20,3 mil milhões de kwanzas de 2021, “como resultado do crescimento do produto bancário em cerca de 253%” -, e o BPC que voltou a registar um resultado negativo, “fruto da reestruturação levada a cabo, que se encontra praticamente concluída”.
No que tem que ver com a distribuição de dividendos e de acordo com as propostas constantes dos relatórios e contas aprovados pelas respectivas Assembleias Gerais, o Banca em Análise revela que as instituições que mais distribuíram em 2023 do resultado de 2022 foram o BFA, o SBA, o BAI e BCGA.
Por outro lado, o valor total dos activos dos bancos analisados equivale a 17 037 mil milhões de kwanzas (33,8 milhões de dólares) no final do exercício de 2022, correspondendo a um crescimento de aproximadamente 4,3%, face ao exercício de 2021. “Quando analisamos a composição do activo do balanço dos bancos, vemos que o crédito, os títulos, juntamente com a liquidez, concentram a parcela mais relevante do activo”, explica José Barata.
Adicionalmente, o total de crédito líquido ascendeu a 3 480 mil milhões de kwanzas (6,9 milhões de dólares) em 2022, o que corresponde a um aumento de cerca de 13%1 face a 2021, sendo que a variação entre 2020 e 2021 cifrou-se em 4,9%, avança a Deloitte, que especifica que o rácio de transformação do crédito cresceu 3,8%. “Mas, se a este rácio juntarmos a dívida pública, sobe para 71% e aproxima-se de economias mais desenvolvidas”, destaca o líder da consultora em Angola.
O BIC, o Banco de Negócios Internacional (BNI), o Banco de Crédito do Sul (BCS), o SBA e o Banco Sol foram os que mais transformaram os depósitos em crédito no ano passado, segundo o relatório. Porém, o BIC, o Millennium Atlântico (BMA), o BFA e SBA foram os que mais credito concederam aos clientes. As cinco instituições, realça a análise da Deloitte, representaram cerca de 62% do total do crédito líquido concedido aos clientes, sendo que o BIC é desde 2019 o banco que mais crédito dá aos clientes.
No global, conclui o estudo, a margem financeira na banca angolana no ano passado cresceu 10%, a margem complementar desceu 4%, enquanto os custos operacionais aumentaram também 4%.