Nasceram em 1988 com quatro elementos, Juvenal Cabral, Micas Cabral, Caló Barbosa e Janeo Barbosa. Hoje, são onze em palco com uma grande diversidade instrumental, sempre fiéis a si próprios.
Numa conversa descontraída, matámos a curiosidade e a saudade com os três principais elementos do grupo. Juvenal Cabral, o baixista e irmão de Micas Cabral, começou por nos explicar: “Tabanka Djaz são uma banda da Guiné-Bissau formada por guineenses, apesar de que na nossa formação existem músicos de outras nacionalidades. Mesmo assim conseguimos manter a nossa raiz e identidade cultural da Guiné-Bissau, um país com uma diversidade cultural muito grande. O género musical que trabalhamos é essencialmente urbano, por exemplo, o gumbé, que é um ritmo que não pertence a nenhuma etnia em particular, mas é o estilo musical que surgiu em Bissau baseado em toda a miscigenação que existe em Bissau. Nós fazemos essencialmente o gumbé e também o afrozouk, que não é nada mais nem nada menos que a nossa raiz africana com influência do zouk das Antilhas, que também não deixa de ser música negra, de escravos que foram levados para estas paragens do mundo.”
Janeo Barbosa, o teclista do grupo, referiu que a banda “é madura profissionalmente com uma característica bem definida, de uma sonoridade particular”, e já com 30 anos de carreira. Sempre caracterizada pela música moderna guineense e pelo afrozouk. “Consideramos que é uma banda que não tem mais nada a provar, simplesmente é Tabanka Djaz.”
Questionado sobre o impacto da crise da Covid-19 e se chegaram a pensar desistir da banda, Janeo Barbosa sublinha: “Como em todas as áreas profissionais, não foi nada fácil o período da pandemia, mas a nossa área foi a mais fustigada. Fomos os primeiros a ter de parar toda a actividade e os últimos a abrir. É claro que tivemos algum apoio da área da cultura, mas nada que pudesse resolver a situação financeira e económica vivida no momento da pandemia. No meu caso, fui obrigado a fazer uma formação na área das telecomunicações para poder enfrentar esse período. Mas sempre convicto de que tudo iria voltar ao normal, por isso nunca pensei abandonar a profissão que tanto amo. E estamos de volta, graças a Deus.”
“Consideramos que é uma banda que não tem mais nada a provar, simplesmente é Tabanka Djaz.”
E da voz afinada de Micas Cabral escutámos os momentos marcantes da banda, dos melhores aos piores. “Do melhor, é difícil mencionar um momento específico. Foram vários e muito bons. Podemos mencionar Cabo Verde, Angola, Moçambique, Europa, onde reside a comuni]dade de expressão portuguesa. Temos um em particular, quando tocámos na Guiné-Bissau, em 2015, na Praça dos Heróis Nacionais. Foi uma festa da Orange. Esse momento foi realmente marcante porque foi na nossa terra e foi a primeira vez que vimos a reacção do público para com os Tabanka Djaz. O povo aderiu ao nosso espectáculo de uma forma incrível. Mas foram muitos momentos marcantes ao longo da carreira.”
Quanto aos maus, o cantor destaca: “O pior momento da história dos Tabanka Djaz foi a perda física do Caló, esse momento abalou bastante o grupo. Apesar de nunca termos pensado em desistir, foi o motivo pelo qual houve o tal interregno de 11 anos sem gravarmos, sem lançarmos um disco. Porque perdemos um grande elemento, além de um irmão, um amigo. Perdemos um grande elemento no grupo, e isso deixou-nos bastante tristes, mas a vida seguiu. Depois fizemos o álbum Depois do Silêncio, e o nosso percurso continuou.”
Com a constante dinâmica na área musical quisemos saber que ilações tiram, se está mais rica ou mais instantânea. Micas Cabral realça: “Tendo em conta que a música não é algo estático e está em constante evolução, assistimos ao longo dos tempos, de geração em geração, ao surgimento de estilos novos e modificações nos estilos já conhecidos. De tempos em tempos surge um artista com uma visão completamente diferente do que já conhecemos e traz uma inovação, traz uma coisa nunca vista. Isto é a realidade musical, isto é a realidade artística. A arte é mesmo assim.” E assume: “Existem muitos bons músicos a surgir na nova geração, a fazer boa música. A música feita por músicos é sempre rica, traz-nos sempre alguma coisa boa, algum ar fresco. Mas também é verdade que actualmente, com o avanço da tecnologia, temos o fenómeno de pessoas que não são músicos, mas têm acesso às ferramentas tecnológicas e, através das delas, conseguem fazer música. Feliz ou infelizmente, temos um grande nicho do mercado ocupado por esse fenómeno e por essas pessoas. É o que é. O mundo em evolução. Vamos ter de conviver com isso, e quem é músico vai continuar a fazer a música com qualidade.”
*Matéria completa na edição impressa Maio/Junho