A terra, a água, o fogo e o ar assumem aqui inúmeras formas que, no seu conjunto, convidam a uma percepção planetária e a uma consciência ecológica, não só da coabitação, mas, sobretudo, da interdependência entre formas de vida humana e não-humana (animal, vegetal, mineral) – assunto vital (vital matter), cuja premência e urgência a própria realidade pandémica veio, mais do que nunca, alertar.
Matéria Vital é o tema da primeira exposição individual, que reúne obras de diversos períodos do multifacetado percurso artístico de mais de cinquenta anos do artista angolano António Ole, na Galeria MOVART, em Lisboa, sob curadoria de Ana Balona de Oliveira. A amostra poderá ser visitada de 15 do mês em curso até 9 de Junho.
“Realizadas em vários meios, da escultura à fotografia, do desenho ao vídeo, estas obras colocam em evidência a atenção que Ole tem dedicado à natureza e aos seus elementos e matérias vitais”, explica a curadora.
O novo projeto do António Ole, nome incontornável do panorama artístico nacional e internacional, interpela reflexões sobre a crise ambiental, associadas às dinâmicas de exploração, extração e violência, que persistem globais e coligadas ao sistema colonial.
Mais de 50 anos dedicado as artes plásticas
Nascido em Luanda, em 1951, o artista plástico estudou cultura afro-americana e cinema, na UCLA (University of California, Los Angeles). Ao longo de cinco décadas, tem desenvolvido um trabalho eclético com recurso ao desenho, pintura, colagem, escultura, instalação, fotografia, vídeo e cinema.
Ole diz inspirar-se na arte tradicional como estímulo para desenvolver um discurso contemporâneo adequado ao seu tempo e circunstância. Os diferentes modos de utilização das práticas expressivas clássicas africanas atravessam toda a sua obra.
Os seus trabalhos têm influenciado as gerações mais jovens de artistas de origem africana e apoiado a reconfiguração das histórias da humanidade e, muito em particular, da história de Portugal, na sua relação crítica com as culturas e comunidades afro-portuguesas.