Os preços dos produtos da cesta básica em Angola, sobretudo do arroz, óleo, massa alimentar e frango, continuam a registar um aumento desmedido, obrigando aos angolanos a recorrerem ao famoso método de compra “sócia” (associação de duas ou mais pessoas na compra de produtos para posterior divisão em partes iguais).
Uma reportagem da FORBES ÁFRICA LUSÓFONA aos principais armazéns de venda de produtos alimentares diversos, localizados no município do Cazenga e no distrito urbano do Rangel, município de Luanda, onde constatou uma grande variação de preços entre os estabelecimentos, para um mesmo produto.
Por exemplo, actualmente, o preço do saco de arroz de 25 kg (de uma mesma marca e origem) varia entre 22 000 kz e 25 500 kz, o saco de açúcar de 50 kg entre 45 500 kz e 43 950 kz, a caixa de massa alimentar de 20 pacotes 6 300 kz, um bidon de óleo de 20 litros entre 36 000 kz a 38 000 kz. O preço da caixa de óleo vegetal de 12 litros custa 27 000 kz, a caixa de óleo de palma de 12 latas está a ser comercializada a 21 250 kz e saco de feijão de 25 kg a 55 000 kz.
Quanto aos frescos, a caixa de coxa de frango congelado de 10 kg está no valor de 21 800 kz, a caixa de asa de frango igualmente de 10 kg agora custa 26 000 kz, a caixa de “galinha rija” está a ser adquirida a 21 000 kz e a caixa de frango de 10 kg 43.000 kz.
A constante e descontrolada subida dos preços não deixa outra alternativa aos cidadãos, se não o recurso à “sócia” para poderem comprar o mínimo de alimentos.
Num dos armazéns do mercado dos Congoleses, encontramos a dona Guilhermina Lucas, que afirmou que o seu salário chega para nada. “Lamentavelmente, os preços estão altos, não condiz com o salário que ganho. Hoje, com 100 000 kz, quase que só se consegue comprar massa, arroz e óleo alimentar, sem contar com os frescos. Comparando com o ano de 2023, este ano a situação está pior”, referiu.
A prática da “sócia” apresenta-se também como uma oportunidade de renda para terceiros. É o caso de Abrão Pedro Lucas, de 35 anos de idade, que coordena um grupo de jovens que têm a missão de repartir para os cliente/compradores os produtos adquiridos, com que conversamos no mesmo local. Contou-nos Abrão que, antigamente, as pessoas levavam um saco de arroz de 25 kg, “mas hoje preferem fazer ‘sócia'” para lhes sobrar algum que lhes possibilite levar outros produtos.
“Nós facilitamos a população. Diariamente, ganhamos no máximo 25 000 kz. Os produtos mais procurados pelos compradores para fazer ‘sócia’ são o arroz, a fuba de milho, açúcar e óleo alimentar”, indica o jovem, justificando que o desemprego o obriga a desenvolver o referido trabalho.
Já no município do Cazenga, próximo do mercado do Asa Branca, encontramos a senhora Marinela Manuel, vendedeira de produtos da cesta básica a retalho, que com o marido desempregado há três anos, apela ao governo angolano para melhorar as condições de vida da população, começando pela redução dos preços dos produtos da cesta básica.
“Se não existisse a ‘sócia’, a vida estaria ainda mais difícil. O dinheiro não tem mais peso, as coisas não estão a baixar”, lamentou.
Convidado a comentar tal situação, o economista e investigador do Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola (CEIC- UCAN), Teurio Marcelo, lembrou que houve um tempo que os preços reduziram, mas que agora a população observa um sofrimento com aumentos desmedidos.
“E a solução é sempre a mesma: temos que aumentar a produção nacional. As soluções já foram identificadas há muito tempo. A agricultura familiar é realmente um segmento da nossa agricultura que, se tivéssemos dado a importância que merece, provavelmente estaríamos melhores”, apontou.
Além disso, considera o especialista, a diversificação económica não se faz apenas com produção de bens, pois também se faz com produção de serviços.
“E penso que é uma boa altura para irmos em busca de uma economia integrada em termos sectoriais e espaciais. Neste momento, mais do que aprovar pacotes económicos com cheques enormes, uma coisa importante seria começar pelas questões mais básicas, como recuperar a confiança dos agentes económicos”, sublinhou.
O investigador do CEIC da Universidade Católica de Angola diz ainda que não se pode dissociar a questão da competitividade e das deficiências do mercado que, em conjunto com a fragilidade das empresas e instituições públicas, oneram imenso os produtos nacionais e os que são importados.
Preços dos produtos nacionais em Angola aumentaram 2,81% em Agosto
Os preços dos produtos nacionais em Angola aumentaram em Agosto deste ano 2,81%, quando comparados com os do mês de Julho 2024, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).
A Secção B – Pesca, de acordo com o Índice de Preços Grossista (IPG), registou maior aumento de preços com 2,99%.
Entretanto, os produtos que tiveram maior variação de preços neste grupo foram sardinha com 3,67%g garoupa fresca com 3,51%, pescada fresca com 3,42%, cachucho fresco com 3,37%, corvina fresca com 3,30%, carapau fresco com 2,61%, espada fresco com 1,62%, cacusso fresco com 1,42% e choco fresco com 1,39%.
Os preços dos produtos importados tiveram um aumento de 1,71% em relação ao mês anterior, influenciado pela variação de preços verificada na Secção A – agricultura, produção animal, caça e silvicultura com 2,52%.
Os produtos que mais aumentaram de preços foram batata rena com 3,31%, feijão castanho com 3,15%, cenoura e milho grão com 2,49% pontos percentuais cada, ovos com 2,48%, alho com 2,35%, ginguba com 2,13%, tomate com 1,72%, grão de bico com 1,46% e limão com 1,30%.
O Índice de Preços Grossista registou uma variação mensal, no período de Julho a Agosto de 2024, de 2,01%, sendo 0,09 ponto percentual inferior a registada no período anterior e 0,27 ponto percentual superior em relação a registada no mesmo mês do ano de 2023.
A variação homóloga de Agosto 2024 situa-se em 36,31%, registando um aumento de 18,51 pontos percentuais com relação a observada em igual período do ano anterior. A tendência da variação homóloga nos últimos 12 meses foi crescente até ao mês de Maio, sofrendo uma queda considerável a partir deste período.
A inflação global do mês de Julho de 2024 foi de 2,01%, sendo os produtos importados que mais contribuíram com 1,24 ponto percentual, ou seja, 62% e os produtos nacionais com 0,76 ponto percentual o que corresponde a 38% do valor da inflação global