Angola vai regressar aos mercados de capitais internacionais este ano para vender Eurobonds, anunciou nesta Segunda-feira, 24, a ministra das Finanças Vera Daves de Sousa, em entrevista à Reuters, que avançou também que a privatização da Sonangol pode demorar mais dois anos.
Com os custos de empréstimo a descer, o governo procura cobrir parte das suas necessidades de financiamento externo de 4 mil milhões de dólares, com a venda de obrigações.
Daves de Sousa disse à Reuters que Angola estava a trabalhar para melhorar a sua classificação de crédito para baixar os custos dos empréstimos e ajudar a alargar a sua base de credores. “Estamos a envidar todos os nossos esforços nesse sentido, estamos a fazer o nosso melhor nas reformas estruturais que precisamos de implementar”, afirmou.
Angola emitiu títulos em dólar pela última vez no final de 2019 para financiar as suas “ambiciosas reformas”, mas viu os rendimentos subirem para cerca de 30% durante a queda do mercado, com o surgimento da Covid-19, em Março de 2020. O país sofreu uma série de downgrades que levaram a sua notação soberana para a categoria de “risco substancial”.
A agência de notação de risco Fitch elevou na última Sexta-feira, 21, a categoria de Angola de “CCC” para “B-“, depois de a Moody’s já o ter feito em Setembro do ano passado. Entretanto, a S&P Global Ratings mantém a classificação do país lusófono africano como “CCC+”.
No meio de um esforço para diversificar a economia da nação que é membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), longe da extracção de hidrocarbonetos, a sua principal fonte de receitas, Angola está também a procurar emitir uma obrigação ESG – de acordo com os princípios ambientais, sociais e de governação empresarial.
Privatização da Sonangol atrasada
Entretanto, um plano lento para privatizar parcialmente a Sonangol, empresa que vem registando perdas, enfrenta mais atrasos, devendo levar mais dois anos. A Sonangol pretende vender activos não essenciais e, como a jóia da coroa de um amplo processo de privatização, enumera uma participação de 30%.
Embora as autoridades inicialmente pretendessem lançar a Oferta Pública Inicial (IPO, na sigla em inglês) antes de 2022, a ministra disse que a reestruturação, juntamente com a recuperação de activos e o trabalho de registro, não foram concluídos. “O balanço da Sonangol deve reflectir de forma muito transparente os activos que têm. Hoje, não”, disse.
Daves de Sousa referiu que a due diligence pré-IPO da Sonangol, bem como da empresa pública mineira de diamantes, Endiama, e da companhia aérea TAAG, pode começar este ano.
“Provavelmente a due diligence levará 12 meses, 15 meses. Se ainda houver alguns pontos a serem corrigidos e alguns problemas a serem resolvidos, provavelmente estamos falando de dois anos”, calculou a governante angolana.
De acordo com Vera Daves, mais 62 activos públicos de menor dimensão vão ser privatizados este ano, incluindo um IPO local de acções detidas pela Sonangol no Banco Angolano de Investimentos (BAI), bem como vendas de acções na Bolsa de Dívida e Valores de Angola (Bodiva), banco Caixa Angola e ENSA seguro.
Falando sobre os esforços para recuperar os activos estatais perdidos para a corrupção, Daves de Sousa avançou que os investigadores estão analisar 12 mil milhões de dólares que podem ser recuperados, com a possibilidade de este número vir a aumentar.
Angola, que concluiu “com sucesso” o seu programa trienal de 4,5 mil milhões de dólares com o Fundo Monetário Internacional, no ano passado, não tem planos para avançar para um outro programa financiado, garantiu a ministra das finanças, mas mantém, no entanto, uma relação estreita com o fundo. “O FMI nos mostrou essa porta e, claro, estaremos prontos para usá-la se for necessário”, sublinhou.