Angola perdeu, de Janeiro a Junho deste ano, 484 milhões de dólares das suas Reservas Internacionais Líquidas (RIL), o que representa uma queda de quase 6% do valor desses activos, de acordo com cálculos da FORBES, com base nos dados preliminares das Estatísticas Monetárias e Financeiras do banco central.
Até finais de Junho, as estatísticas do Banco Nacional de Angola (BNA) colocavam as RIL a valerem 8.313 milhões de dólares, quando em Janeiro deste ano as mesmas se fixavam nos 8.797 milhões de dólares.
De lá para cá, só se registaram quedas, com pequenas oscilações, entre subidas e descidas. Janeiro foi o período que as RIL registaram o maior valor de 2021, para, depois, seguir uma onda de queda que nem mesmo as estratégias de abertura e flexibilização do mercado cambial do banco central ajudaram a conter (ver gráfico).
Na base desta redução, apontam os analistas e fontes do próprio banco central, estão a crise económica e financeira por que passa Angola, desde meados de 2014. Ou seja, a crise do sector petrolífero afectou as receitas com exportações de petróleo, o que se junta à fraca produção interna de bens e serviços essenciais.
Às causas da queda das RIL também são apontados os efeitos da pandemia da Covid-19, que tem vindo a arrefecer a actividade económica por todo lado. Isto, somado a outras alterações nas dinâmicas do comércio de petróleo mundial, justificam ainda o deslizamento das Reservas Internacionais, fazendo com que, por arrasto, entre menos divisas no país.
As RIL são constituídas por activos em moeda estrangeira convertível e ouro monetário, cuja gestão é controlada pelo BNA. Adquiridos com recursos em moeda estrangeira à guarda do banco central, nomeadamente depósitos do Tesouro Nacional e dos bancos comerciais em moeda estrangeira, esses activos destinam-se a cobrir défices nas contas externas, suportar intervenções do BNA em defesa do kwanza e servir de referência para empréstimos externos.
Apesar de, às vezes, o banco central defender que a entrada do novo regime cambial ajudou a conter a queda das RIL, o facto é que, segundo os especialistas, na prática, as mesmas só não estão ‘deslizar’ ainda mais para baixo porque o país está a importar menos, isto, devido ao contexto económico e a crise pandémica global, que obrigou a que vários mercados restringem o acesso.
José Massano chegou mesmo a considerar que a propalada reforma cambial, imposta ao mercado desde 2018, era “uma reforma estruturante”, feita a nível do mercado cambial. “[A reforma cambial] é das mais profundas que temos, porque impacta sobre a vida das empresas, das famílias, mas é necessário também termos presentes o nosso ponto de partida”, considerou há tempos à imprensa o governador do banco central.
Por sua vez, analistas rebatem e consideram que melhorar o mercado cambial não se faz apenas com legislação. À FORBES, especialistas em assuntos económicos e financeiros têm sido useiros na defesa da tese de que “só a produção local de bens e serviços ajudarão na estabilização das RIL”, um factor, que segundo, defendem, não depende do banco central, e sim da mudança de mentalidade dos operadores do mercado.