Assinala-se hoje o Dia Mundial do Ambiente. O 5 de Junho foi instituído como data comemorativa do Ambiente, em 1972, na Assembleia Geral das Nações Unidas, com o objetivo de promover actividades de protecção e preservação do meio ambiente.
A criação da data marcou a abertura da Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, na Suécia, que ficou conhecida como “Conferência de Estocolmo”.
Naquele evento, a Organização das Nações Unidas (ONU) criou o PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – e apresentou a declaração da conferência, em que constam princípios que visam à melhoria da preservação do ambiente.
Sobre a data, o ambientalista angolano, Vladimir Russo, diz em entrevista à FORBES que Angola ainda apresenta sérios problemas de saneamento básico, com realce para a ausência da gestão de resíduos sólidos propriamente dita.
Tomando Luanda (capital do país) como referência, Vladimir afirma que o que normalmente acontece é as pessoas terem um deposito de lixo em casa, que depois são transferidos para o contentor, na rua, e daí para um aterro sanitário. “A única coisa que acontece é que o lixo sai de um depósito menor para um outro maior e isso não é gestão de resíduos”, defende.
Por este facto, o mestre em educação ambiental defende ser fundamental que haja um investimento na triagem dos resíduos, isto é, separação na fonte, para que se possa investir na reutilização. “Nem todos os resíduos devem ir para o aterro. Vai apenas aquilo que não pode ser reciclado”, enfatiza.
Entretanto, o responsável apontou a questão do fornecimento de água e energia de rede como “condições indispensáveis” para o surgimento de indústrias de reciclagem no país, pois, alega, não é possível sustentar um negócio de reciclagem se o empresário tiver que usar geradores e pagar cisternas de água. “Sem estas condições, fica mais fácil importar produtos acabados”, indica.
Top 5 dos crimes ambientais em Angola
Sobre os crimes ambientais mais frequentes no país, o antigo director nacional do Ambiente (2009 a 2010) e actual director Executivo da Fundação Quissama, destaca a caça furtiva, as queimadas, a abertura de campos agrícolas em zonas que são habitats normais de animais, a expansão urbana e a poluição.
O também membro do Conselho Económico e Social, refere que, entre estes crimes, existem aqueles que acontecem contra a natureza e os que surgem a desfavor da sociedade de forma geral.
O consultor ambiental com experiência na área da biodiversidade e legislação ambiental, reforça que o principal crime contra a natureza é a caça furtiva que é, “sem dúvidas”, um dos principais promotores da redução da fauna e da flora nacionais. “Digo flora porque a caça furtiva não é só feita com uso de armas de fogo e armadilhas”, defende-se.
Quanto as queimadas, Vladimir Russo, considera que têm tido um impacto significativo na flora, na fauna, na própria regeneração da flora, e algumas até com impacto em bacias hidrográficas. Sobre a abertura de campos agrícolas em zonas que são habitats naturais de animais aponta “existir sempre uma tentativa da imprensa e das pessoas culpabilizarem os animais quando na verdade a culpa é do homem que invade a casa dos animais para a actividade agrícola”.
Referindo-se a expansão urbana, Russo lembra que projecções apontam que a população angolana chegar aos 50 milhões de habitantes em 2050, sendo este o dobro do que era em 2014. Por isso, perspectiva que para essa população seja preciso construir casas, estradas, fábricas, o que, na sua óptica, causará um forte impacto ao ambiente.
O ambientalista sugere que a expansão urbana deve ser acompanhada de planos directores definidos para várias áreas, porque, justifica, há projectos que são desenvolvidos em áreas inadequadas e depois gere-se um conjunto de problemas ambientais.
O surgimento de lixeiras, o depósito de resíduos em linhas de água e em outros locais inadequados, bem como a sua queima, configuram-se num grande delito ambiental. Segundo aponta o especialista, é nas zonas urbanas onde a poluição resultante dos resíduos sólidos é mais visível. “A queima de lixo é uma solução provisória, mas cria outros problemas, como a poluição dos lençóis freáticos”, concluiu.