Na obra de René Tavares está reflectida a sua própria realidade e, nela,o passado e o presente do seu povo. Depois de ter estudado arte em Dakar, no Senegal, e em Rennes, em França; e de ter dado os primeiros passos como artista profissional nesses países, Tavares vive neste momento na cidade de Lisboa, cidade pela qual optou por motivos familiares, profissionais e emocionais. Não é caso único. “Digo que moro em Portugal mas que vivo em São Tomé”, brinca o artista santomense à FORBES em Lisboa, no pólo alfacinha da galeria angolana “This Is Not A White Cube”, nos primeiros dias da exposição “In Memory We Trust”.
“Todas as minhas responsabilidades cívicas estão aqui”, explica, “mas eu sou são-tomense e toda a conjuntura [de São Tomé] está nas minhas obras, na minha pesquisa, na minha busca”, sublinha. “Hoje todo o africano sente-se responsável pela sua própria evolução política, pela evolução da sua própria identidade, por estar agarrado a essa memória que não foi assim tão boa. Mesmo centrado só nele é um discurso que está virado para uma necessidade qualquer”, resume.
A arte africana nunca teve tanta procura nos mercados internacionais. Os artistas estão a dar o salto para mercados muito mais amplos do que os nacionais e regionais. É difícil acompanhar a imensa explosão cultural que ocorre no continente. Ganham uma nova, e maior, projecção; e, com ela, têm a oportunidade de mostrar a mais gente, e a mais gente diferente, as suas obras, fruto da expressão de dilemas pessoais e colectivos. E Lisboa, entre os países africanos de expressão lusófona, parece constituir-se, de forma natural, como uma cidade de transição entre África e Europa; chamando a atenção de instituições, curadores, artistas, feiras e galerias. Os olhos de quem compra estão, de resto, postos em tudo o que tenha a ver com arte africana. O mercado global de arte mostra um enorme apetite por obras de artistas africanos.