“Admitir que o futuro do continente africano está na resignada aceitação de concepções políticas autocráticas, não legitimadas pelo voto popular, é uma mistificação”, considera a UCCLA – União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa, numa mensagem por ocasião do “Dia de África” que hoje se assinala, assinada pelo seu secretário-geral, Vitor Ramalho.
Na mensagem enviada à FORBES ÁFRICA LUSÓFONA, a UCCLA sustenta que além do mais, há que ter presente que, por os países africanos serem Estados à procura de serem nações, parece que devem os seus líderes assumirem responsabilidades que atendam a esta realidade de forma consensualmente participativa.
Os novos desafios, sempre em mudança, acrescenta, respeitam também hoje à preservação do planeta em que vivemos e com ele o ambiente, de forma a combater as alterações climáticas e a luta contra a pobreza, devendo conduzir à priorização no continente africano da autossustentabilidade dos países, com redobrada atenção ao sector primário da economia.
“A preocupação da priorização da autossustentabilidade é tanto maior quanto é facto que as independências alcançadas em África, em pleno mundo bipolar, geraram dependências que não conduziram à diminuição do ciclo vicioso da pobreza e ao aumento do desenvolvimento humano”, lê-se na comunicação.
Na visão da UCCLA, o desaparecimento do mundo bipolar, por implosão da ex-URSS, e as mudanças desde então operadas, para uma lógica crescentemente multipolar, não obnubila a permanência de interesses potencialmente hegemónicos por parte dos países mais poderosos.
“Não se duvida que África e os africanos saberão aproveitar os ensinamentos da experiência, como se está já a verificar, respondendo ao radicalismo, nomeadamente de correntes religiosas, ponderando ainda o desejável equilíbrio do crescimento democrático com o económico”, refere a organização.
No documento, a UCCLA diz que o facto de se estar perante um continente jovem, “também o sendo na maioria da população com menos de vinte anos de idade, faz-lhe confrontar com o verso e o reverso da medalha – a juventude é o futuro”, mas, no entanto, para o alcançar tem se ser preparada.
“Há, repito, que equacionar o equilíbrio do crescimento económico com o demográfico. Esse equilíbrio é tanto mais necessário ao desenvolvimento humano quanto é certo ser também a causa do processo migratório de massas, quando não é cuidado, gerando o desespero com as gravíssimas consequências que vemos no mediterrâneo”, sugere Vitor Ramalho no documento.
O quadro que precede, avança, deve ser objecto – “e sê-lo-á seguramente” – de políticas públicas articuladas, com os olhos postos no futuro, “como já se está a verificar por parte de investigadores e estudiosos do continente africano”.
De acordo com a União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa, “a crescente interdependência e articulação dos países na era da globalização que vivemos e a consciência que África evidencia quanto à necessidade do reforço da autossustentabilidade dos países que a integram, são, entre outros, factores que conduzirão ao reforço de sinergias valorativas de uma estratégia que atenda aos desafios com que o continente se confronta”.
Para a organização, esses desafios devem ser encarados tendo presente que “Roma e Pavia não se fizeram num dia”, pelo que essas respostas não são possíveis de alcançar a curto prazo.
“É um objectivo estratégico e comum. Seja como for, África é um continente de futuro e com futuro, e é com os olhos postos nele que […] saudamos com esperança o dia 25 de maio, Dia de África”, conlui a UCCLA.