Nasceu na província angolana do Moxico e, muito cedo, Emilsa Osvaldina Baptista foi para África do Sul, onde passou a sua adolescência e parte da juventude, acabando mesmo por se formar em Engenharia Química na Universidade da África do Sul.
Aos 28 anos, a jovem tornou-se na primeira master sommelier (especialista em vinhos), pela CAFA Wine School, ao nível dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) e a primeira angolana a desenvolver fórmulas para licores, a partir de frutos, chás e ervas também elas angolanas.
Actualmente a trabalhar com uma sociedade vitícola em Portugal, Emilsa Baptista tem se dedicado ao desenvolvimento de fórmulas de licores com sabores de frutos tropicais e silvestres de Angola, como a Ginguenga entre outros, que preferiu não citar, socorrendo-se da máxima “o segredo é a arma do negócio”.
“Não posso dizer, mas são frutas exóticas nacionais que o mercado desconhece. Queremos ter alguns licores específicos de Angola, bem estruturados e não artesanais. Quero trabalhar também na melhoria da qualidade dos vinhos Serra da Xixila, com as castas que temos. Esse é o meu objectivo pessoal neste sector”, assume.
Em conversa com a FORBES ÁFRICA LUSÓFONA, a engenheira química conta que para manter a boa qualidade das suas fórmulas direccionadas para licores e vinhos tem feito formações contínuas junto de produtoras conhecidas como Bordeaux, Château Pape Clement, em França, e Casa da Calçada, em Portugal.
Emy, como é carinhosamente chamada pelos mais próximos, refere que a possibilidade de ter contacto com pessoas de renome na área da produção e desenvolvimento de vinhos e licores, levou-a a trabalhar na preparação de alguns dos vinhos da Lusovini Vinhos de Portugal, como o “Regateiro Júnior” e “Pedra Cancela 2019”, marcas portuguesas que se podem encontrar no mercado angolano.
“Não escolhi Portugal para fixar residência, mas sim Portugal escolheu-me para ganhar experiência.”
Questionada sobre se trocou a residência de Angola para Portugal, Emilsa Baptista responde sem rodeios: “não escolhi Portugal para fixar residência, mas sim Portugal escolheu-me para ganhar experiência”. A jovem acrescenta que “a Lusovini Portugal, que também está no mercado angolano, em parceria com a Sociedade Vinícola de Angola, foi a primeira empresa que me deu a oportunidade de trabalhar com eles e de estar no meio de titãs na área, actuando desde a produção até às vendas”, o que justifica a necessidade de se ter deslocado a Portugal, um mercado mais maduro nesta matéria.
Apesar da sua paixão pelos vinhos ser antiga, a jovem engenheira revela que nota alguma “indignação” por parte da sociedade, pelo facto de ser mulher. “A minha paixão pelo mundo dos vinhos é antiga. Desde que entendi que Jesus transformou água em vinho, sempre achei isto muito fascinante”, sublinha.
Embora como engenheira química tenha começado a fazer pesquisas sobre vinhos em 2018, a nível profissional foi apenas em 2020 que a sociedade vitícola a chamou para trabalhar no laboratório e tomar conta da Adega em Portugal.

A entrada para o mundo da cosmética
Entretanto, a jovem angolana já não desenvolve apenas fórmulas para licores. Uma das suas actuais apostas é a área dos cosméticos, na qual, produziu, recentemente, uma fórmula para aquela que é considerada uma das melhores marcas de cosméticos a nível internacional, a L’Oreal.
“A cosmetologia é a minha área de paixão e tenho, há já alguns anos, o projecto Nubia Soap, que é a minha marca. Fui eu quem procurei a France Adviser da L’Oreal, tive mesmo de correr atrás. Hoje a nova fórmula que fiz com a Adviser da L’Oreal já foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) mas ainda estamos a criar a estratégia para o produto estar no mercado”, revela.
Na área vinícola, Emilsa actua apenas como técnica de laboratório, não sendo, por isso, algo em que prevê investir, pelo menos, por enquanto. “Não faço investimentos monetários na área de desenvolvimento de vinhos, porque sou apenas uma funcionária que desenvolve fórmulas”, clarifica.
“Angola tem um potencial grande em termos do turismo rural que nós [angolanos] desconhecemos. É preciso apostar mais nesta área e acredito que posso contribuir muito para os cofres do país e da própria imagem em si.”
Quanto à cosmética, a angolana avança que colocou em standby o desenvolvimento do projecto Nubia Soap, “porque precisa-se de muito investimento para lançar produtos de qualidade”, isto porque, “com um deslize estaremos a colocar vidas em risco”, alerta.
Em perspectiva tem a inauguração de uma cooperativa de produção de cosméticos e de formação de jovens angolanos interessados em actuar nesta área. “Não posso ser a única sommelier angolana ou dos PALOP. Tenho de puxar os meus para actuarem comigo. Tenho tudo desenhado e estou apenas a estudar as melhores estratégias para fazer acontecer”, garante.
Fora do laboratório, Emilsa Baptista desempenha também o papel de enóloga e guia de enoturismo, outra área que diz gostar. “Preparo cardápios de vinhos e outras bebidas para hotéis, restaurantes, barcos e casas de festas”, detalha.
À FORBES a jovem da província do Moxico revela ainda que um dos seus sonhos a nível profissional é actuar na área de sommelier como moderadora de turismo rural no seu país-natal. “Angola tem um potencial grande em termos do turismo rural que nós [angolanos] desconhecemos. É preciso apostar mais nesta área e acredito que posso contribuir muito para os cofres do país e da própria imagem em si”, sublinha.