Nas últimas semanas têm circulado, em portais de notícias e jornais angolanos, informações que dão conta de que o Banco Keve vive um período de crise, consubstanciado numa falência técnica. Qual é, na prática, o actual estado operacional do banco?
O Banco já teve a oportunidade de esclarecer publicamente estas notícias e, tal com foi referido, o Banco Keve passa por um processo de reestruturação e de reposicionamento do seu negócio. É um processo que implica a tomada de decisões, algumas delas difíceis, mas necessárias face ao contexto que vivemos. Assim sendo, foram tomadas medidas que implicaram o saneamento do balanço de forma a torná-lo mais robusto, rentável e menos exposto aos riscos e também exigiu um reposicionamento do negócio para irmos de encontro às necessidades dos nossos clientes, numa era cada vez mais digital e para garantirmos um banco mais eficiente e preparado para os desafios do futuro.
Na prática, está a dizer que não há fundamentos para tais especulações…
São notícias infundadas, visto que o banco detém, neste momento, a liquidez necessária para fazer negócio e acima de tudo continua com a solvabilidade muito acima do mínimo exigido pelo regulador.
Também circulam rumores de que o antigo administrador do banco, Arlindo Ngueva Rangel, teve uma gestão “ruinosa” à frente do Keve e que um dos accionistas já pôs em marcha um plano de acerto de contas com o administrador em causa. O banco confirma que há esse plano em marcha de acerto de contas?
Eu, enquanto PCA do Banco Keve, o que posso afirmar é que o órgão do qual sou presidente não tem qualquer plano de acerto de contas com ninguém. Todos os órgãos executivos que já passaram pelo banco tomaram sempre as decisões de gestão que se mostravam ser as mais acertadas ao momento que se vivia. Aliás, de acordo com as contas divulgadas pelo banco, é possível aferir que, entre 2015 e 2018, o produto da actividade bancária passou de 9,5 mil milhões Kwanzas para 34,3 mil milhões, e, no mesmo período, foi necessário efectuar um esforço para o reforço das provisões de crédito (hoje chamadas de imparidades) que rondam os 29,9 mil milhões Kwanzas.
Está a dizer que nunca esteve em causa a gestão e métodos de controlo interno dos seus antecessores?!
É também importante referir que o Banco Keve tem sempre adoptado as melhores práticas em termos da sua gestão corporativa e coma tal detém mecanismos de controlo interno eficazes e as suas contas foram sempre devidamente auditadas por auditores externos credíveis.
Segundo o balanço até 31 de Dezembro, o banco fechou com um recuo expressivo nos resultados líquidos (lucros), importante indicador sobre o desempenho da actividade, além de que houve também queda na rubrica ROAE, isto é, saiu de 10,8%, em 2019, para 5,6% em 2020. Isto basta para se considerar que, embora não esteja em situação de falência técnica, o banco está abaixo da sua capacidade de produção?
Em 2020, o sector financeiro mostrou-se extremamente exigente, não só pelos efeitos nefastos da pandemia da Covid-19, mas também a nível do cumprimento das medidas regulamentares, tendo sido um ano rico em medidas que fizeram aumentar as responsabilidades dos bancos comerciais.Algumas destas exigências regulamentares impactaram as margens dos bancos, como, por exemplo, a descida do rating de Angola e as limitações em termos de comissionamento do negócio bancário, o que obrigou os bancos a reflectir sabre as suas estratégias de negóciou, por forma a manter os seus níveis de rentabilidade. Por outro lado, a pressão exercida sabre os bancos no sentido de credibilizar o sector financeiro nacional, coincidiu também com um período de maior estabilidade do kwanza, o que veio também impactar fortemente os bancos que detinham activos financeiros indexados ao dólar. Este conjunto de factores, a jusante com o processo de reestruturação e saneamento do balanço em curso, resultou num esmagamento da margem relativamente ao ano de 2019.
Em que medida essa reestruturação em curso salvaguarda os depositantes?
Este aumento de capital demonstra o comprometimento dos accionistas com o caminho que está a ser traçado pelo Banco Keve, sendo um sinal claro de confiança para a gestão do banco e irá permitir ter a robustez e liquidez necessárias para a continuidade do negócio. É importante relembrar que, de todos os bancos que foram alvo do exercício de avaliação da qualidade dos activos (AQA), o Banco Keve foi o único que subscreveu integralmente um aumento de capital com entrada de dinheiro fresco.
Face a esses indicadores, que estratégias estão em cima da mesa e qual a sua visão para o banco em 2022?
Este valor de capital que referiu (24 mil milhões Kz), vai permitir ao banco acomodar ainda mais os efeitos do saneamento que esta em curso e também permitirá dar ao banco uma maior capacidade de efectuar negócios e melhorar a sua margem. Estamos certos de que as exigências em termos de capital por parte do regulador, irão continuar a acompanhar naturalmente as melhores práticas internacionais e com tal, queremos estar preparados para o futuro do sistema financeiro nacional, dotando o Banco Keve de todos os recursos necessários para o cumprimento das exigências regulamentares.